segunda-feira, 5 de março de 2012

ESPIRITUALIDADE

EU SOU GUERREIRO!

A Bíblia nos ensina com clareza a não ter medo de enfrentar os nossos problemas. Eles são comparados a montanhas, que se levantarão da nossa vida, se exercitarmos a fé. Quem sabe a sua montanha seja um pecado, uma enfermidade, problemas familiares ou financeiros, feridas emocionais, luta contra a tentação ou vícios… Seja lá qual for esta montanha, ao invés de ficar pensando nela, ore por ela. Tenha a coragem de fazer suas as palavras de Joel 4,10: “…o enfermo diga: eu sou guerreiro.”.
 Declare para si mesmo e para os seus problemas que você crê em um grande Deus! Ele é o Deus do impossível. Não permita que os problemas sejam maiores do que a sua fé em Deus.
 Satanás deseja transformar você em um perdedor diante da vida.E isso não é verdade,porque quem foi derrotado é Ele. A cruz é o lugar da sua derrota, conforme Col 2,15:“Espoliou os principados e potestades, e os expôs ao ridículo, triunfando deles pela cruz.”
A vitória de Jesus é a vitória de todos os que o tem como Senhor das suas vidas! É importante manter esta vitória. Satanás tem a autorização para agir:
 1º onde existe pecado, para evitar isso é necessária a confissão periódica.
 2º  onde se crê em coisas contrárias ao ensino da Palavra.
Em Lv 19,31 lemos: “Não vos dirijais aos espíritas nem aos adivinhos: não os consulteis, para que não sejais contaminados por eles. Eu sou o Senhor, vosso Deus.”
Os exorcistas também falam da importância de a gente se proteger do mal que os outros tentam nos fazer. Isso pode acontecer tanto por algum desejo de mal, como também por pactos com o demônio, feitos por meio de malefícios da magia ou feitiçaria.
 A primeira arma é ter Jesus como Senhor da nossa vida, alimentando-se da Palavra e Eucaristia. Também falam da ajuda dos objetos sagrados como: Crucifixo, escapulário, medalhas… E sacramentais como: água, sal, óleo, vela…e incenso.
A partir de hoje não se deixe mais intimidar pelas montanhas dos seus problemas, mas declare às montanhas: eu sou guerreiro!
AUTOR: Pe. Alberto Gambarini

Deus Cuidará de Ti/Cantor Cristão

Aflito e triste coração,
Deus cuidará de ti;
Por ti opera a su a mão,
Que cuidará de ti.

Deus cuidará de ti,
Em cada dia proverá;
Sim, cuidará de ti,
Deus cuidará de ti.

Na dor cruel, na provação,
Deus cuidará de ti;
Socorro dá e salvação,
Pois cuidará de ti.

Deus cuidará de ti,
Em cada dia proverá;
Sim, cuidará de ti, 
Deus cuidará de ti.

A tua fé Deus quer provar,
Mas cuidará de ti;
O teu amor quer aumentar,
E cuidará de ti.

Deus cuidará de ti,
Em cada dia proverá;
Sim, cuidará de ti,
Deus cuidará de ti.

Nos seus tesouros tudo tens,
Deus cuidará de ti; 
Terrestres e celestes bens,
E cuidará de ti.


Deus cuidará de ti,
Em cada dia proverá;
Sim, cuidará de ti,
Deus cuidará de ti.

O que é mister te pode dar,
Quem cuidará de ti;
Nos braços seus te sustentar,
Pois cuidará de ti.

Deus cuidará de ti,
Em cada dia proverá;
Sim, cuidará de ti,
Deus cuidará de ti.


‎"Tem um momento na vida que todo mundo escolhe coisas que as 

deixam mais felizes. Tem uma hora na vida, que a gente cresce e

 quer ser criança de novo. Tem uma hora na vida, que a gente cresce

 e escolhe ser a gente mesmo. Eu gosto desse MEU LUGAR. 

Descobri-me um paraiso para morar. 

Na Vida tudo são Escolhas…

 Fiz as Minhas!"



Da gente até o limite do rompimento 
das lágrimas."

"E quanto mais e maiores motivos para não sentir, ele e a vida me dão... adivinhem?
 Sim, o amor cresce. 
Irresponsável, sem alimento, sem esperança e de uma burrice enorme.
 Ainda assim, forte e em crescimento"



REFLETIR
Se Cristo não está sacramentalmente presente na Eucaristia, a Missa nada mais é do que uma cerimónia, piedosa comemoração de um aconteci­mento passado. Se Cristo não está de fato presente na hóstia consagrada, o sacerdote nada mais é do que um pregador qualquer — e não um homem separado por Deus para oferecer o Sacrifício. Na verdade, se Cristo não está, real e substancialmente, presente na Santa Eucaristia, a doutrina do Corpo Místico de Cristo — a Igreja — perde, igualmente, seu sentido e torna-se apenas uma metáfora: pois Cristo sacramentado é a Cabeça e o sustento do Corpo Místico. A Eucaristia é que nos une, em um Corpo, a Cristo, nossa Cabeça: «Visto que há um só pão, nós, embora muitos formamos um só corpo, nós todos que participamos dum mesmo pão» (1 Cor 10, 17)
O Pão Vivo, Thomas Merton, p 45, Vozes, 1959
Olhe Para o Cordeiro


Tendo Abraão erguido os olhos, viu atrás de si um carneiro preso pelos chifres entre os arbustos; tomou Abraão o carneiro e o ofereceu em holocausto, em lugar de seu filho. Gênesis 22:13.

Era o momento fatal. Não havia mais esperanças humanas de salvação para Isaque. Abraão estava obedecendo à ordem divina. Saíra de casa na esperança de que Deus mudasse Seu plano. Cada hora que passava, o velho patriarca esperava nova ordem de Deus. Transcorreram três dias, e finalmente chegaram ao monte do sacrifício. Podia ainda Deus mudar Sua ordem? Talvez; mas nada aconteceu. Lá estava Isaque sobre o altar de pedra, disposto ao sacrifício. Finalmente, Abraão levantou a faca disposto a dar o golpe certeiro que ceifaria a jovem vida do filho. Era o filho da promessa, o filho com quem tanto sonhara, o filho esperado. Como tudo podia ter um fim tão triste?
E quando tudo parecia acabado, ouviu a voz de Deus que lhe dizia: "Abraão, não faças mal ao moço; porque agora sei que és fiel e não Me negaste o teu único filho."
"Tendo Abraão erguido os olhos, viu atrás de si um carneiro preso pelos chifres entre os arbustos."
Você já percebeu que nos momentos mais dramáticos da vida humana, sempre aparece o cordeiro? Adão e Eva vestiam folhas ridículas de figueira, e um cordeiro foi sacrificado para lhes providenciar vestimentas duradouras. A morte rondava as casas do Egito e um cordeiro teve que morrer para que seu sangue identificasse as casas que não deviam ser tocadas!
O que Deus está querendo nos dizer hoje é que a solução para os nossos problemas só pode estar no Cordeiro. "Abraão tomou o cordeiro e o ofereceu em holocausto em lugar de seu filho."
Todos nós estávamos condenados à morte, porquanto todos pecamos, mas Deus não poupou Seu Filho para morrer em nosso lugar. Cristo é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Você sente o frio de uma consciência culpada? Olhe para o Cordeiro; Sua lã poderá aquecê-lo.
Anda tropeçando em meio à escuridão da vida? Olhe para o Cordeiro, Sua gordura poderá providenciar combustível para iluminar as trevas.
Sente fome que o pão não satisfaz, e sede que a água não acalma? Olhe para o Cordeiro e lembre que um dia Jesus disse: "Quem comer da Minha carne não terá fome, quem beber do Meu sangue não terá sede."
Se você chegou ao ponto de pensar que já não existe solução para seu problema; se você está vivendo hoje o momento mais crítico de sua vida; se tudo lhe parece escuro e sem saída, por favor, deixe de olhar para seus problemas e olhe para o Cordeiro. Ele poderá abrir a janela por onde o sol tornará a entrar em sua vida

"Queres ficar são?": a Quaresma conduz os 

catecúmenos às águas do batismo

Comentário ao Evangelho do dia feito por 
São Máximo de Turim (? - c. 420), bispo 
Sermão da Quaresma

Caríssimos irmãos, o número quarenta possui um valor simbólico, ligado ao mistério da nossa salvação. Com efeito, assim que a maldade dos homens invadiu, nos primeiros tempos, a superfície da terra, Deus fez cair do céu a chuva durante quarenta dias e inundou a terra inteira com as águas do dilúvio (Gn 7). A partir dessa altura, estava lançada simbolicamente a história da nossa salvação: as águas da chuva caíram durante quarenta dias para purificar o mundo. Agora, durante os quarenta dias da Quaresma, é oferecida aos homens a misericórdia, para que se purifiquem [...]

Assim, o dilúvio é figura do baptismo; o que então se verificou ainda hoje se cumpre [...] e, quando o pecado do mundo desapareceu no fundo do abismo, a santidade pôde elevar-se até ao céu. Assim ainda hoje acontece na Igreja de Cristo: [...] levada pelas águas do baptismo, também ela se ergue até ao céu; são submersas as superstições e as idolatrias e sobre a terra se espalha a fé, resplandecente como a arca do Salvador. [...] É verdade que somos pecadores e que o mundo será um dia destruído; só escaparão à ruína aqueles que a arca albergar no seu interior. Esta arca é a Igreja [...] e nós vo-lo anunciamos: o mundo não escapará ao naufrágio. Por isso vos exortamos, irmãos, a todos vós, a que tomeis refúgio nesse santuário.

Santa Gema Galgani e o Demônio



Pelo Padre Germano de Santo Estanislau, CP
tradução do Padre Matos Soares


            Para purificar os Seus escolhidos e fazer deles vítimas de expiação, Deus serve-Se muitas vezes de satanás que, com o seu ódio ao homem, é em Suas mãos o instrumento mais ativo. A Santa Escritura e, sobretudo os registros da hagiografia oferecem-nos exemplos numerosos desta conduta da Providência Divina.

Santa Gema Galgani
            Quando o Senhor quis elevar São Paulo da Cruz a um grau mais eminente de santidade, disse-lhe no íntimo da sua alma: “Fazer-te-ei calcar aos pés pelos demônios". Gema ouviu também um dia palavras semelhantes: "Prepara-te, minha filha; por minha ordem o demônio vai declarar-te guerra e dar, por esta forma, o último retoque à obra que realizei em ti”.

            Podemos dizer que esta guerra foi geral, isto é, dirigida contra cada uma das virtudes e práticas por meio das quais a jovem virgem se esforçava em caminhar para Deus. Todas desagradavam ao anjo do mal, que as atacou com ódio feroz. Dir-se-ia que, no exercício do seu tenebroso império, não tinha outra preocupação senão perseguir esta pobre menina e procurar meios de a assaltar com tentações.

            A oração é o alimento vital da santidade, o supremo caminho que conduz ao Soberano Bem. Desde há muito que Gema a amava e praticava com todo o ardor da sua alma e devia-lhe bens inapreciáveis. O que não fez satanás por afastar a donzela da oração! Nada podendo conseguir com as suas inspirações perversas, provocava-lhe violentas dores de cabeça que teriam levado uma alma menos enérgica antes à indolência e ao repouso que à oração; experimentava mil outros meios para a desviar deste exercício divino.
            Oh! dizia-me ela, que tormento para mim o não poder orar! Que fadiga eu sofro! E que esforços faz esse velhaco (assim chamava ao demônio) para me tornar a oração impossível! Ontem à noite queria matar-me, e tê-lo-ia feito se não fosse a rápida intervenção de Jesus. Eu estava desfalecida, tinha bem gravado na minha alma o Nome de Jesus, mas não me era possível proferí-lo com a língua
            Algumas vezes o infernal inimigo tentava triunfar de um só ímpeto por meio de sugestões ímpias. “Que fazes tu, lhe dizia, és louca de orar a um malfeitor? Vê como ele te atormenta e te conserva consigo sobre a cruz. Porventura podes amar quem não conheces e quem trata tão duramente os seus melhores amigos” Estas blasfêmias não eram mais que poeira lançada ao vento, mas afligiam profundamente a alma terna e amante, obrigada a ouvir ultrajar assim o seu adorável Jesus.


            No meio de tantos sofrimentos, a pobre menina procurava algum conforto no seu pai espiritual, apresentava-lhe as suas dificuldades, implorava conselho e direção. Este humilde e filial recurso não agradava ao espírito das trevas, que via assim diminuir as suas já tão pequenas probabilidades de êxito. Usou de mil artifícios para isolar na luta a Serva de Deus, afastando-a do diretor espiritual. Pintou-lho com as mais desprezíveis cores: como ignorante, um fanático, um iludido. “Nos últimos dias, escrevia-me ela, o maldito fez-me ‘boas’ [peças]. Este monstro queria privar-me do meu guia e conselheiro para me perder; não tenho, porém, receio de que o consiga.”

            Parece que esta confiança em Deus deveria desarmar satanás, mas não desarmou. Perante a inutilidade de suas pérfidas insinuações, recorreu à violência física. Logo que Gema tomava a pena para me escrever, tirava-lha das mãos e rasgava o papel; algumas vezes, agarrando-a pelos cabelos, arrancava-a de junto da mesa com tal raiva que lhe ficavam nas mãos brutais madeixas inteiras; e ao mesmo tempo uivava com voz furiosa: “Guerra, guerra a teu pai espiritual, guerra enquanto ele estiver no mundo!’ Seja-me lícito dizer, aqui só entre nós, que nunca passou das palavras. "Acreditai-me, Padre, dizia Gema, ao ouvi-lo, vê-se que este velhaco odeia muito mais a vós do que a mim.”


            O demônio levou a audácia até ao ponto de tomar as aparências do seu confessor ordinário. Um dia acabava a menina de entrar na igreja e preparava-se, esperando pelo sacerdote, para a recepção do sacramento da Penitência. Mas qual não foi o seu espanto ao vê-lo imediatamente no seu posto, sem que pudesse saber por onde é que tinha entrado! Sentiu uma grande perturbação interior, que era nela indício infalível da presença do espírito maligno. Entretanto aproximou-se e começou a confissão. A voz que ouvia era realmente a do confessor ordinário, mas as palavras eram escandalosamente indecentes e acompanhadas de atos desonestos. “Meu Deus, exclamou Gema, que é isto e onde estou eu?” A pura menina, tremendo dos pés à cabeça, permaneceu por um instante estonteada, depois sossegou, levantou-se, saiu do confessionário e verificou então que o pretendido confessor tinha desaparecido, sem que nenhuma das pessoas presentes o visse ir.

            Não havia dúvida: o demônio procurava com este artifício grosseiro surpreender a santa menina ou pelo menos tirar-lhe toda a confiança no ministro de Deus.

            Tendo falhado este golpe, tentou outro. Apareceu sob a forma de um belo anjo resplandecente de luz e cheio de solicitude pela sua felicidade. Como com Eva no paraíso terrestre, empregou a mais sutil astúcia para conseguir enganá-la. “Olha para mim, dizia ele, posso tornar-te feliz; jura somente que me obedecerás.” Gema, que desta vez não tinha sentido a perturbação reveladora da presença do demônio, ouvia tranquilamente. Mas, logo às primeiras propostas criminosas do espírito perverso, os olhos se lhe abriram e ela se pôs na defensiva. “Meu Deus, Maria Imaculada, exclamou a princípio, vinde em meu auxílio!” Depois, avançando resolutamente para o anjo disfarçado, escarrou-lhe na cara. Desapareceu imediatamente sob a forma duma grande chama vermelha, deixando no assoalho do quarto um montão de cinza.

            Algum tempo depois, novo assalto.
Ouvi, Padre: escrevia-me Gema, ontem entrava eu em casa, depois de ter me confessado. Aproveitando o momento de solidão, pus-me de joelhos para recitar a Coroa das Cinco Chagas. Ia a chegar à quarta Chaga quando vi diante de mim uma pessoa muito parecida com Jesus. Estava flagelado de há pouco e do seu coração aberto corria sangue em abundância. Disse-me: ‘É assim, minha filha, que me correspondes? Considera o estado em que me encontro. Vês como sofro por ti? E não podes continuar a consolar-me com essas penitências? E no entanto era bem pouca coisa; podias muito bem retomá-las. – Não, não respondi, quero obedecer e desobedeceria se vos atendesse. – Mas enfim, o confessor que tas proibiu foi esse... Ora, tu de nenhum modo estás obrigada a obedecer-lhe. – E acrescentou muitas mais coisas. Nestes perniciosos conselhos reconheci satanás, e estava para tomar a disciplina, como das outras vezes em iguais circunstâncias, quando me senti diferentemente inspirada. Levantei-me, lancei-lhe água benta e desapareceu. Recuperei então a paz, não sem ter recebido alguns golpes com que a besta vil me gratifica de tempos a tempos.”
            Não obtendo outra coisa, o espírito do mal procurava assim levar Gema, contra a proibição do diretor espiritual, a penitências prejudiciais à saúde.

            Para protegê-la contra as visões maléficas, ordenei-lhe que a cada aparição sobrenatural exclamasse: Viva Jesus! Nosso Senhor, sem eu o saber, tinha-lhe dado um conselho quase igual. Gema devia dizer: Benditos sejam Jesus e Maria. A dócil menina, para obedecer a ambos, juntava as duas exclamações. Os bons espíritos repetiam-nas sempre, mas os maus ou não respondiam ou se limitavam às primeiras palavras: Viva, benditos. Por este sinal eram reconhecidos, e Gema escarnecia deles.


            Com a esperança de lhe inspirar o orgulho, o demônio mostrava-lhe algumas vezes em sonhos, ou mesmo estando acordada, uma procissão de pessoas vestidas de branco que se aproximavam piedosamente do seu leito para a venerar. Descobria-lhe também que as cartas para seu pai espiritual eram religiosamente conservadas com o fim de servirem um dia à sua glória, etc., etc. Vãs tentações, a Serva de Deus era suficientemente humilde para não se deixar levar como Eva pela sedução da vaidade.

            Supondo abalar talvez a sua grande confiança em Deus, o maldito aproveitava as ocasiões tão freqüentes de abandono e de cruel aridez espiritual para aumentar em sua alma o horroroso temor da condenação. “Não vês, lhe dizia, que Jesus não te escuta, que já te não quer conhecer? Para que afadigar-te em correr após ele? Só te resta resignar-te com a tua desgraçada sorte” Para os santos foi sempre esta tentação a mais angustiosa. Gema experimentava-lhe toda a violência; mas habituada a recorrer a seu Deus, apesar de tudo e em todas as circunstâncias, com a mais viva fé, como uma criança recorre a seu pai, depressa recuperava a serenidade. Por isso podia dizer-me: “Este celerado cansa-se; quereria ... Mas Jesus com suas palavras inspirou-me tal tranqüilidade que todos os esforços diabólicos não poderiam tirar-me a confiança por um só momento.”

            O anjo da soberba, furioso de ver que toda a sua astúcia se malograva aos pés duma humilde donzela, em último recurso tirou definitivamente a máscara, passando a atos de violência. Aparecia-lhe sob as formas horríveis dum monstro ameaçador, dum homem feroz, dum cão raivoso. Depois de ter assim procurado aterrorizá-la, precipitava-se sobre ela, batia-lhe, rasgava-lhe a pele, atirava-a dum lado para outro no quarto como se fora uma rodilha; arrastava-a pelos cabelos e martirizava de todas as maneiras possíveis os seus inocentes membros. E não julguemos que tudo isso se limitava a impressões puramente imaginárias, porque os efeitos sobre o corpo da vítima persistiam por muito tempo: cabelos arrancados, carnes lívidas, ossos quase esmagados, dores atrozes. Algumas vezes ouvia-se o barulho das pancadas, via-se o leito mudar de lugar e elevar-se da terra para cair bruscamente. Estes vexames duravam sem interrupção horas inteiras e algumas vezes toda noite.

            Deixemos Gema falar a este respeito. A simplicidade do seu estilo e a ingênua sinceridade da sua alma dispensam-nos de fazer comentários. 
Hoje, que me julgava livre desta besta vil, fui muito molestada por ela. Ia para me deitar, esperando poder dormir; não sucedeu, porém, assim. A princípio recebi uma pancada das mais terríveis, de que pensei morrer. O malvado tinha a forma dum grande cão negro, e punha-me as patas sobre os ombros. Tratou-me de tal modo que em um dado momento supus ter os ossos todos quebrados. Pouco depois, como eu tomasse água benta, torceu-me o braço com extrema violência e caí em dor. Os ossos estavam completamente deslocados, Jesus, porém, veio repô-los no seu lugar, tocando-os, e tudo ficou remediado.”
            Em outra carta: 
Também ontem o demônio me afligiu. Minha tia mandou-me que fosse encher os jarros do quarto. Ao passar com os jarros na mão, diante da imagem do Coração de Jesus, dirigi-lhe com amor uma prece fervorosa; imediatamente senti darem-me sobre os ombros uma bastonada tão forte que cai por terra, sem nada quebrar. Ainda hoje me sinto muito mal e menor trabalho me causa dor.”
            A santa menina escrevia-me ainda:
Acabo de passar, como de costume, uma noite má. O demônio apresentou-se diante de mim sob a figura de um imenso gigante e bateu-me durante toda a noite, dizendo: para ti já não há esperança de salvação, estás em meu poder. Respondi que nada temia porque Deus é misericordioso. Então, espumando de raiva, deu-me uma grande pancada na cabeça e desapareceu gritando: maldita sejas. Fui para o quarto repousar um pouco, mas tornei a encontrá-lo lá. Começou de novo a bater-me com uma corda toda aos nós. Batia-me por eu me opor a fazer o mal que sugeria. Não, lhe dizia eu; e ele redobrava as pancadas, batendo-me violentamente com a cabeça no chão. De repente tive a lembrança de implorar o auxílio do divino Pai de Jesus e exclamei: Pai Eterno, livrai-me pelo sangue preciosíssimo de Jesus. Imediatamente o velhaco deu-me uma pancada formidável, atirou-me abaixo da cama e fez-me bater a cabeça no chão com tanta violência que perdi os sentidos com a dor. Só muito tempo depois os recuperei. Demos graças a Jesus.”
            Estas cenas repetiam-se muito freqüentemente, e, em certas épocas todos os dias. A pobre padecente estava quase habituada a elas. Excetuando as torturas corporais, podemos dizer que a vista do monstro infernal já não a atemorizava. Olhava-o com a mesma serenidade com que a pomba olha para um animal imundo. Gema algumas vezes entretinha-se a responder-lhe e a humilhá-lo, quando não estava proibida de o fazer; e, quando à invocação do Santíssimo Nome de Jesus, a hedionda besta se rolava por terra para fugir em seguida a toda pressa, a ingênua menina acompanhava-a com zombarias e francas gargalhadas. “Se vísseis, Padre, como ele fugia e tropeçava em sua fuga raivosa, ter-vos-ieis rido comigo.” Assistia eu uma ocasião à piedosa menina, gravemente doente e em perigo de vida. Sentado a um canto do quarto rezava tranquilamente o Breviário, quando um enorme gato muito preto e de aspecto terrificante me saltou impetuosamente para os pés. Deu uma volta pelo quarto, saltou para o leito da doente e colocou-se muito perto do seu rosto, fixando nela um olhar feroz. O sangue gelou-me nas veias; Gema, porém, permanecia muito serena. Então! Que há de novo? Lhe disse eu, ocultando o melhor possível a minha atrapalhação. – Não tenhais medo, Padre, é esse velhaco do demônio que quer molestar-me, mas não temais, a vós não fará mal nenhum. A tremer aproximei-me do leito, tomei água benta e aspergi-o. A visão desapareceu imediatamente, sem ter conseguido alterar por um só momento a paz profunda da doente.

            A única coisa que aterrava verdadeiramente Gema era o receio de ceder às sugestões do inimigo e ofender a Deus. Embora nunca tivesse caído durante o passado, o perigo parecia-lhe iminente e conservava-a aterrorizada. Não esquecia nenhum meio de defesa: Cruz, relíquias dos Santos, escapulários, exorcismos, e, acima de tudo, recurso filial a Deus, a Maria Santíssima, ao Anjo da Guarda e ao diretor de sua alma. Escrevia-me: 
Vinde depressa, Padre, ou ao menos daí fazei exorcismos, porque o demônio persegue-me por todos os modos; ajudai-me a salvar a alma, tenho medo de já estar nas mãos de satanás. Ah! Se soubésseis como sofro! Como ele estava contente esta noite! Agarrou-me pelos cabelos e puxava por eles dizendo: desobediência! desobediência! Quero concluir desta vez, vem, vem comigo! Queria levar-me para o inferno. Atormentou-me durante mais de quatro horas. Foi assim que se passou a noite. Tenho receio de o atender um dia ou outro e vir a desagradar a Jesus.”
            Em algumas raríssimas ocasiões o Senhor permitiu ao demônio apoderar-se de todo o seu ser, ligar as potências da sua alma e perturbar-lhe a imaginação a tal ponto que se poderia julgar possessa. Causava dó vê-la neste estado miserável. Ela mesma tinha-lhe um tal horror que, só com lembrar-se dele, empalidecia e começava a tremer. “Ó Deus, dizia ela, estive no inferno sem Jesus, sem a divina Mãe, sem o Anjo! Se saí de lá sem pecado só a Vós o devo, ó Jesus. Apesar de tudo, estou contente, porque sofrendo assim e sofrendo sempre, faço a Vossa santíssima Vontade.” Se estes assaltos do demônio se tivessem repetido mais vastas vezes ou tivessem sido de mais longa duração, a pobre padecente, apesar de muito resignada, teria com certeza perdido a vida. A estas atribulações juntavam-se as dores de cruéis doenças, provocadas, como temos fortes razões para o crer, pelo próprio espírito infernal. E se refletirmos que Gema estava ao mesmo tempo miraculosamente associada a todos os tormentos sofridos pelo divino Redentor na Sua Paixão, teremos uma idéia da grandeza do martírio desta virgem heróica, que se tinha oferecido em holocausto ao Senhor.

 
            Todavia, declarava-se feliz no meio deste mar de sofrimentos físicos e morais, feliz por se parecer assim com o Homem das Dores, por se elevar sempre mais nas puras regiões do amor divino e expiar pela sua parte os pecados do mundo.

            Um dos dogmas mais consoladores da nossa crença é o dos Anjos Custódios. Depois do pecado original, o homem enfraquecido e miserável, tinha necessidade de auxílio e conselho para andar pelo caminho do bem e atingir o fim para que foi criado. Em Sua misericórdia infinita e paternal ternura, o Senhor veio em auxílio dos pobres filhos de Eva que queria salvar, colocando-os sob a proteção dos Anjos, ministros da Sua Corte Celeste. Cada um de nós é assistido por um destes puros espíritos, que chamamos com razão o nosso bom Anjo. Toma-nos pela mão, logo que entramos na vida, para não mais nos deixar durante a nossa peregrinação pelo mundo. “Eis, diz o Senhor, que Eu envio o meu Anjo para ir adiante de ti, para te proteger no caminho e introduzir no lugar que te preparei.

            Se Deus provê com solicitude às necessidades de todas as Suas criaturas, tem um particular cuidado com as eleitas que, como Ele mesmo diz, Lhe são tão queridas como as meninas dos Seus olhos, e entre os escolhidos tem ainda preferências. Daí resultam os diferentes graus de importância da missão misericordiosa dos Anjos Custódios. Estando Gema predestinada para um grau muito elevado de glória e felicidade celeste, era natural e conforme à Sabedoria divina que o anjo proposto para a guardar tivesse com ela um cuidado muito especial. A graça que já se manifestava nesta alma ditosa por fenômenos tão prodigiosos, ia aumentar dum modo não menos prodigioso com a assistência do seu bom Anjo.

            Quem não conhecesse pelos Sagrados Livros a tocante história de Tobias e pela hagiografia cristã a sua freqüente repetição na vida dos Santos canonizados, seria tentado talvez a supor exagerados os detalhes maravilhosos que vou referir. Mas o Senhor prodigaliza todos os dias a Seus filhos bens muito preciosos sem que ninguém se lembre de Lhe dizer: por que Vos mostrais tão bom? Gema estava admiravelmente preparada para os favores do seu Anjo pelas mais belas virtudes: inocência, pureza, candura, simplicidade de criança, e, acima de tudo, fé muito viva que lhe deixava ver quase a descoberto os mistérios da eternidade. Com certeza o espírito celeste devia encontrar na sua feliz protegida alguma semelhança com a natureza angélica que lhe permitia, sem se rebaixar muito, conservar com ela relações familiares.

            O mais maravilhoso neste suave comércio era a presença sensível e quase contínua do Anjo da Guarda. Gema via-o com os olhos do corpo, tocava-o com as mãos, como se fosse uma pessoa viva, conversava com ele como com um amigo. Escrevia-me o seguinte: “Há seis dias que não vejo Jesus. Ele porém não me deixou completamente só; o Anjo da Guarda conserva-se sempre visível junto de mim.”

            Com que fervor dava graças a Deus por este benefício, e testemunhava ao espírito protetor o seu reconhecimento! “Se alguma vez for má, querido Anjo,lhe dizia ela, não te zangues. Quero mostrar-te a minha gratidão. – Sim, respondia o celeste guarda, serei teu guia e teu companheiro inseparável. Não sabes Quem te confiou à minha guarda? Foi o misericordioso Jesus.” A estas palavras a santa menina, não podendo conter os sentimentos da sua alma, perdia os sentidos e entrava em êxtase na companhia do seu Anjo. O que se passava então ela mesma o conta por estas simples palavras: “Permanecíamos ambos com Jesus. Oh! Se estivésseis conosco Padre.” Permanecer com Jesus era mergulhar-se, com o espírito e o coração, no oceano imenso da Divindade para aí aprender e contemplar inefáveis mistérios. De ordinário, Gema e o Anjo da Guarda passavam os seus colóquios a orar juntamente ou a louvar o Altíssimo. Os Anjos, segundo um santo Doutor, deleitam-se em assistir às almas em oração. O arcanjo Rafael disse ao velho Tobias que durante as suas orações ele mesmo as oferecia secretamente ao Senhor.

            Que objeto de complacência devia ser para o seu Anjo da Guarda esta admirável menina cujo coração, como a lâmpada do Santuário, velava sempre diante do seu Deus com extraordinária vivacidade de fé? Gostava de lhe aparecer, umas vezes ajoelhado ao seu lado, outras elevado da terra, com as asas abertas e as mãos estendidas sobre ela, ou juntas na atitude de orar. Recitavam alternadamente as orações vocais e os salmos, e, se diziam jaculatórias, “era [ele], segundo as próprias palavras de Gema, quem com mais força exclamava: Viva Jesus! Bendito seja Jesus! E outras afetuosas aspirações.”


            Nas horas de meditação o Anjo infundia-lhe no espírito luzes altíssimas, dava ao seu coração suaves e fortes impulsos para que o santo exercício fosse perfeito, e, como a Paixão do Salvador era quase sempre o assunto da meditação, descobria-lhe os Seus profundos mistérios. “Considera, dizia ele, quanto Jesus sofreu pelo homem, considera uma por uma estas Chagas. Foi o amor que as abriu todas. Vê quão horrível é o pecado cuja expiação custou tanta dor e tanto amor.” Estes belíssimos pensamentos iam ferir o coração da donzela como outros tantos raios de luz e de fogo. Tendo assistido pessoalmente muitas vezes às orações e às meditações de Gema e do seu Anjo da Guarda, pude convencer-me, só pelas minhas observações exteriores, da realidade de todos os detalhes que ela me dava depois do exercício nas suas comunicações de consciência.


            Notei igualmente que todas as vezes que ela levantava os olhos para o Anjo a fim de o ouvir ou lhe falar, mesmo fora da oração, perdia o uso dos sentidos. Nesses momentos podia-se picar, queimar sem que a sua sensibilidade fosse despertada. Mas vinha a si logo que afastava os olhos do Anjo ou cessava o colóquio. Este fenômeno renovava-se infalivelmente em cada uma das suas comunicações celestes, por mais próximas que fossem. Sempre e por toda a parte, no meio das ocupações, no caminho, mesmo à mesa, o Anjo esta à disposição de Gema e Gema à disposição do Anjo. Nenhum sinal exterior manifestava os seus santos colóquios, exceto a absoluta imobilidade da vidente e o brilho sobrehumano do seu olhar. Bastava tocá-la para nos convencermos, em atenção à sua insensibilidade, que estava fora dos sentidos e em relações com o sobrenatural. Estes colóquios respiravam muitas vezes a maior simplicidade, e a familiaridade do Anjo só tinha igual na do Arcanjo Rafael com o jovem Tobias.
Dizei-me, meu Anjo, interrogava a donzela, o que tinha esta manhã o meu confessor para ser tão severo e recusar ouvir-me? E o Padre, responderá de Roma à carta urgente em que lhe peço uma regra de conduta sobre tal ponto? Dize-me, meu querido Anjo, quando é que Jesus me converterá este pecador por quem me interesso? Que devo responder a tal pessoa que me pede conselho? E o que vos parece de mim? Jesus está contente? Como poderei agradar-Lhe”.
            O Anjo, acomodando-se com um encantadora condescendência a esta ingenuidade algum tanto importuna, respondia a tudo. E os acontecimentos não tardavam a mostrar a origem sobrenatural das respostas. Seria preciso um volume para referir estas diversas comunicações, mas talvez me fosse preciso um outro para defender a sua realidade, tão extraordinárias parecem muitas vezes e tão difíceis de aceitar pelo racionalismo contemporâneo.

            Pode dizer-se, dum modo geral, que o Anjo da Guarda era para Gema um segundo Jesus. Ela expunha-lhe as suas necessidades e as dos outros, queria-o incessantemente junto de si durante os seus temores e sobretudo durante as lutas contra o infernal inimigo; confiava-lhe diversas mensagens para Deus, para a Virgem Santíssima, para os Santos seus advogados, dava-lhe até cartas fechadas e lacradas com destino a um ou outro destes advogados, pedindo-lhe que a seu tempo trouxesse a resposta, e a maravilha é que estas cartas eram levadas realmente por um ser invisível. Depois de ter tomado todas as precauções para me certificar da intervenção duma causa sobrenatural no seu desaparecimento, vi que me devia convencer de que neste ponto, como em outros não menos prodigiosos, o Céu, para assim dizer, queria brincar com uma menina, cuja simplicidade lhe era tão querida.

            Muitas vezes encarregava o Anjo da Guarda dum negócio particular perante alguma pessoa deste mundo, e qual não era a sua admiração quando não via chegar a resposta! “E não obstante, escrevia ela, há já tantos dias que vo-lo mandei dizer pelo Anjo; como não fizeste caso? Ao menos podíeis mandar-me dizer por ele que não era vossa intenção ocupar-vos deste negócio. Em todo o caso não vos zangueis, insisto de novo por meio deste carta.”

            Deste modo o mensageiro celeste encontrava-se constantemente preparado para o serviço desta jovem virgem de inefável candura. Além disso, prestava-se de bom grado a todos os seus desejos, acudia, mesmo sem ser invocado, ao menor perigo, à menor necessidade; refreava a audácia do demônio, sempre pronto a maltratar a sua protegida, e algumas vezes lutava para lha tirar das mãos brutais. Eis alguns fatos relativos a esta assistência: uma vez, estando à mesa ainda em casa de seus pais, uma das pessoas presentes, deixando-se levar pelos maus costumes do nosso tempo, proferiu uma blasfêmia contra o adorável Nome de Deus. Logo que Gema a ouviu perdeu os sentidos com a dor e ia a cair da cadeira; antes, porém, que batesse com a cabeça no chão, o Anjo a acudiu e com uma só palavra dita ao coração fez-lhe retomar imediatamente os sentidos. Por outra vez, perdida na contemplação, encontrava-se ainda na igreja, sendo já tarde; o Anjo advertiu-a e na volta acompanhou-a, sob uma forma visível, até à porta de casa.

            Um dia o demônio tinha-lhe batido tão cruelmente no momento da oração da noite que a pobre menina ficou impossibilitada de se mover. O Anjo da Guarda ofereceu-lhe o seu auxílio, ajudou-a a subir para o leito e pôs-se de guarda à cabeceira. O Anjo avisava-a em muitas circunstâncias em que a sua vida podia correr perigo e indicava-lhe as precauções a tomar. Sem a sua intervenção, por mais duma vez teria sido vítima de algum acidente, tão pouco era o cuidado que tinha de si. Um dia disse-lhe [o Anjo] em tom de amável censura: “Pobre pequena, como és imperfeita; tenho de velar continuamente por ti.

            A missão dos Anjos Custódios tem como objeto principal os interesses espirituais das almas. Eles devem ser, segundo os desígnios da Providência, instrumentos de santificação para nos conduzir pelos caminhos difíceis da virtude. O Anjo de Gema não perdia uma ocasião de a repreender, de a aconselhar e mesmo de a instruir por ensinamentos cheios de celeste sabedoria, que a menina conservou em parte nas relações que enviava ao diretor espiritual. Uma vez, para que não se perdesse uma sílaba, o Anjo fez-lhe escrever alguns destes ensinamentos que ia ditando. Por sua ordem, Gema sentou-se à mesa, tomou a pena e o papel, enquanto que ele, de pé a seu lado, como um professor junto do aluno, começava:
Lembra-te que aquele que ama verdadeiramente a Jesus fala pouco e sofre tudo. Ordeno-te da parte de Jesus, que nunca digas a tua opinião, se não te for pedida, que nunca sustentes o teu sentimento, mas que cedas depressa. Quando cometeres qualquer falta, acusa-te imediatamente sem ser preciso que outros te avisem. Obediência pontual e sem réplica ao teu confessor, sinceridade com ele e com os outros; não te esqueças de guardar a vista, lembrando-te que os olhos mortificados contemplarão as belezas do Céu.”
            O santo Anjo sabia usar de rigor com a sua discípula; não lhe deixava passar nenhuma imperfeição e corrigia-a sem piedade, a ponto de ela me dizer: “O meu Anjo é um pouco severo, mas sinto-me bem com isso. Nos últimos dias chegou a repreender-me três a quatro vezes por dia.” Parece até que o vigilante guarda saiu dos justos limites numa ocasião:
Ontem, escrevia-me Gema, durante a refeição levantei os olhos e vi o Anjo lançar-me olhares severos, não falava. Mais tarde, quando fui repousar, olhei outra vez para ele, mas baixei a vista depressa; meu Deus como estava irritado! – Disse: ‘Não tens vergonha de cometer faltas em minha presença?’ Lançava-me alguns olhares tão severos... eu não fazia senão chorar. Supliquei a Deus e a minha celeste Mãe que o tirasse de diante de mim, pois não podia resistir mais. De quando em quando repetia: ‘Envergonho-me de ti.’ – Pedi para que ninguém o veja neste estado, pois os que o vissem com certeza não quereriam mais aproximar-se de mim. Sofri um dia inteiro, não pude recolher-me um só momento; o seu aspecto permanecia tão severo que eu não tinha coragem para lhe falar. Ontem de noite não consegui adormecer até que, finalmente, pelas duas horas da manhã, o vi aproximar-se; pôs-me a mão sobre a fronte dizendo: ‘Dorme, má.’ E não o vi mais.”
            Não se pode dizer quanto fruto tirava deste magistério angélico a santa menina, sempre sedenta de virtude e de santidade. Atenta às menores palavras do Anjo, cumpria de todo o coração as penitências que ele muitas vezes impunha, para ver se lhe agradava.
Repugnava-me muito, dizia-me ela, andar a dizer ao meu confessor certas coisas, como o Anjo me ordenava por penitência; todavia obedeci e, logo de manhã, violentando-me, corri a dizer-lhas. Depois desta vitória sobre mim mesma, o Anjo, muito contente, tornou-se bom para mim.”
            Gema amava este guarda tão dedicado pelo bem da sua alma. Tinha constantemente o seu nome nos lábios como no coração. “Querido Anjo, dizia ela, quanto vos amo! – E por quê?, perguntava ele. – Porque me ensinais a ser boa e a conservar-me na humildade.”

            Não admira que este vivo afeto, numa alma simples e ingênua, desse origem a uma familiaridade que pode parecer excessiva. Ao ouvir as conversas de Gema com o seu querido Anjo, ao ouvi-la discutir vivamente para o levar a ter a sua opinião, dir-se-ia que tratava com um igual. Eu mesmo a princípio fiquei admirado, adverti-a de que era mau o seu proceder e disse-lhe que era orgulhosa, pois levava a familiaridade até ao ponto de tratar por ‘tu’ a um espírito puro em vez de tremer diante dele. Para a experimentar, proibi que ultrapassasse certos limites. A donzela baixou a cabeça e respondeu com toda a humildade: “Tendes muita razão, Padre; hei de corrigir-me. Daqui por diante direi sempre ‘vós’ ao Anjo; e quando me for dado vê-lo, testemunhar-lhe-ei grande reverência, conservando-me a cem passos atrás dele.”

            Na primeira visita do celeste guarda, Gema advertiu-o da norma de conduta: “Tende paciência, querido Anjo, o Padre não está contente, preciso de mudar de procedimento.” E absteve-se de ultrapassar o limite marcado enquanto não levantei a proibição. Pela força do hábito, acontecia-lhe muitas vezes enganar-se e misturar o ‘tu’ com o ‘vós’, mas corrigia-se, mesmo em êxtase. Algumas vezes o Anjo não aparecia só, mas com outros espíritos celestes para fazerem alegre companhia à angélica irmãzinha. Logo que tive conhecimento disso, mostrei estar muito descontente e escrevi a Gema dizendo, sempre para pôr à prova a sua virtude, que era tempo de acabar. Gema respondeu: “Na verdade, Padre, não compreendo nada disso. Os outros, quando estão a rezar, vêem o seu Anjo da Guarda. Se eu também o vejo, ralhais e afligi-vos. Mas ontem, dia em que eles se festejavam, despedi-os a todos. O meu não quis partir, nem o outro em que vos falei; ora que hei de eu fazer? Não vos zangueis outra vez, serei boa e obediente”.


            A familiaridade de Gema com o Anjo da Guarda era simples, espontânea, cheia de humildade, como testemunham as duas seguintes aparições, tomadas entre mil e contadas pela própria menina:

Estava eu no leito, muito atormentada, quando me senti subitamente possuída dum profundo recolhimento. Juntei as mãos e com toda a força do meu fraco coração fiz o ato de contrição com uma viva dor dos meus inúmeros pecados. Estando o meu espírito absorvido pela lembrança das minhas ofensas, notei o Anjo junto do leito. Fiquei envergonhada de ver em sua presença. Ele, ao contrário, com uma amabilidade cheia de encanto, disse-me: ‘Jesus tem uma grande afeição por ti, ama-O muito.’ – Depois acrescentou: Amas a Mãe de Jesus? Envia-Lhe muitas vezes as tuas saudações. Ela fica muito contente em as receber e nunca deixa de as retribuir. Se não o faz sempre sensivelmente, é para experimentar a tua fidelidade.’ – Abençoou-me e desapareceu.”
            Outra visão:
Enquanto fazia as minhas orações da noite, o Anjo da Guarda aproximou-se de mim e, batendo-me no ombro, disse: ‘Gema, como é que tu levas tanto desgosto para a oração?’ – Não é desgosto, respondi, há dois dias que não me sinto bem. – Ele continuou: ‘Faze o teu dever com cuidado e Jesus te amará mais.’ – Roguei-lhe que fosse pedir a Jesus permissão para passar a noite junto de mim. Desapareceu imediatamente e, obtida a permissão, voltou para o meu lado. Oh! Como se mostrou bom! Quando estava para partir, pedi-lhe que não me deixasse ainda. – ‘Não posso, respondeu, é conveniente que eu vá’. – Está bem, ide, lhe disse eu, saudai a Jesus por mim. Lançando-me um último olhar, acrescentou: ‘Não quero que tenhas conversações com as criaturas. Quando quiseres falar, fala com Jesus e com o teu Anjo da Guarda.”

            Tal é, pouco mais ou menos, o gênero das outras aparições. Daqui se pode concluir como devia ser amada de Deus esta virgem que recebia a honra de ser assim visitada, assistida e dirigida por espíritos angélicos nos caminhos da santidade. Não lhe tenhamos inveja, porque também nós recebemos do mesmo Pai celeste um Anjo para nos guardar, e se formos, como Gema, muito puros, muito humildes, simples de coração, cheios de fé e de santos desejos de perfeição, ele também nos cercará da mesma solicitude e do mesmo amor.
  
(Servo de Deus Padre Germano de Santo Estanislau, CP, in: Gema Galgani, Virgem de Luca. Tradução e edição do Padre Matos Soares, Porto: 1923, páginas 203-220 e 319-322). 

Promessas de Nosso Senhor a Santa Margarida Maria Alacoque



A chamada Grande Revelação foi feita a Margarida Maria durante a oitava da festa do Corpus Domini de 1675. Mostrando o seu Coração divino, Jesus confiou à Santa:

Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e se consumir para lhes testemunhar seu amor. Como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelas suas irreverências, sacrilégios, e pela tibieza e desprezo que têm para comigo na Eucaristia. Entretanto, o que Me é mais sensível é que há corações consagrados que agem assim. Por isto te peço que a primeira sexta-feira após a oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa particular para honrar Meu Coração, comungando neste dia, e O reparando pelos insultos que recebeu durante o tempo em que foi exposto sobre os altares”.
“Prometo-te que Meu Coração se dilatará para derramar os influxos de Seu amor divino sobre aqueles que Lhe prestarem esta honra”.
Jesus apareceu-lhe numerosas vezes de 1673 até 1675. Dos seus colóquios com Nosso Senhor distinguem-se classicamente 12 promessas. Eis alguns extratos da Mensagem do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria. (10)

“Os fiéis acharão, pelo intermédio desta devoção amável, todos os socorros necessários ao seu estado, ou seja, a paz nas suas família, o alívio nos seus trabalhos, as bênçãos do Céu em todas as suas empresas, a consolação nas suas misérias, e é propriamente neste sagrado Coração que alcançarão um lugar de refúgio durante toda a vida e principalmente na hora da sua morte”.

“O Meu divino Salvador fez-me compreender que aqueles que trabalham pela salvação das almas encontrarão a arte de comover os corações mais empedernidos e trabalharão com um êxito maravilhoso se eles mesmos estiverem penetrados de uma terna devoção ao divino Coração”.

"Asseverando-Me que Ele recebia um contentamento singular em ser honrado sob a figura deste Coração de carne, cuja imagem desejava fosse exibida em público, com a finalidade –acrescentou– de tocar por seu intermédio o coração insensível dos homens; prometendo-me que derramaria em abundância todos os dons que possui em plenitude sobre todos aqueles que O honrassem; e que em todo lugar em que esta imagem fosse ostentada para ser objeto de especial honra ela atrairia toda sorte de bênçãos”.

“Sinto-me totalmente imersa neste divino Coração; (...) estou como num abismo sem fundo onde Ele me revela os tesouros de amor e de graça que concede às pessoas que se consagram e sacrificam para lhe render e alcançar toda a honra, amor e glória de que são capazes”.

“Confirmou-me o contentamento que recebe em ser amado, conhecido e venerado pelas suas criaturas e tão grande que prometeu-me que todos aqueles que Lhe sejam devotados e consagrados não morrerão jamais”.

“Numa sexta-feira, durante a Sagrada Comunhão, disse estas palavras à sua indigna escrava: “Prometo-te, na excessiva misericórdia do meu Coração, que o seu amor onipotente obterá a todos aqueles que comunguem nove primeiras sextas-feiras do mês seguidas a graça da penitência final, que não morrerão na minha desgraça, sem receber os seus sacramentos e que o Meu divino Coração será o seu refúgio assegurado no último momento”. “Nada temas, Eu reinarei apesar dos meus inimigos e de todos aqueles que procurarão opor-se”.

“Este amável Coração reinará, apesar de Satanás. Isto me arrebata de alegria.” “Afinal reinará, este amável Coração, apesar de todos os que se quererão opor. Satã e todos os seus seguidores serão confundidos”.

10. Cf. Vida e Obras de Santa Margarida Maria,
publicação da Visitação de Paray, 1920

O Sal da mortificação

S. Josemaria aconselhava uma coisa que ele próprio vivia: pôr “uma cruz em cada prato”, isto é, mortificar-se em todas as refeições: espaçando o beber água, por exemplo, e não fazendo comentários sobre a comida. Servia-se um pouco menos do que lhe apetecia ou um pouco mais daquilo de que não gostava tanto…

Põe, entre os ingredientes da refeição, "o saborosíssimo", da mortificação.
Forja, 783

Dou-te duas razões
A mortificação é de uma importância extraordinária, de todos os pontos de vista.
- Por razões humanas, pois quem não sabe dominar-se a si mesmo nunca influirá positivamente nos outros, e o ambiente vencê-lo-á logo que satisfaça os seus gostos pessoais; será um homem sem energia, incapaz de um esforço grande quando for necessário.
- Por razões divinas: não te parece justo que, com estes pequenos actos, demonstremos o nosso amor e acatamento a Quem tudo deu por nós?
Sulco, 980

E uma terceira…
Temperança é domínio. Nem tudo o que experimentamos no corpo e na alma deve deixar-se à rédea solta. Nem tudo o que se pode fazer se deve fazer. É mais cómodo deixar-se arrastar pelos impulsos a que chamam naturais; mas no fim desse caminho cada um encontra a tristeza, o isolamento na sua própria miséria.
Há pessoas que não querem recusar nada ao estômago, aos olhos, às mãos; recusam-se a ouvir quem as aconselha a viver uma vida limpa. (…) A vida ganha então as perspectivas que a intemperança esbate; ficamos em condições de nos preocuparmos com os outros, de compartilhar com todos o que nos pertence, de nos dedicarmos a tarefas grandes. A temperança torna a alma sóbria, modesta, compreensiva; facilita-lhe um recato natural que é sempre atraente, porque se nota o domínio da inteligência na conduta. A temperança não supõe limitação, mas grandeza. Há muito maior privação na intemperança, porque o coração abdica de si próprio para servir o primeiro que lhe fizer soar aos ouvidos o ruído de uns chocalhos de lata.
Amigos de Deus, 84

Outro motivo para o mesmo esforço
Basta deitar um olhar à nossa volta. Reparai a quantos sacrifícios se submetem de boa ou má vontade, eles e elas, para cuidar do corpo, para defender a saúde, para conseguir a estima alheia... Não seremos nós capazes de nos comover perante esse imenso amor de Deus, tão mal correspondido pela humanidade, mortificando o que tiver de ser mortificado, para que a nossa mente e o nosso coração vivam mais pendentes do Senhor?

Alterou-se de tal forma o sentido cristão em muitas consciências que, ao falar de mortificação e de penitência, se pensa apenas nesses grandes jejuns e cilícios que se mencionam nos admiráveis relatos de algumas biografias de santos. Ao iniciar esta meditação, aceitamos a premissa evidente de que temos de imitar Jesus Cristo, como modelo de conduta. É certo que Ele preparou o começo da sua pregação retirando-se para o deserto, a fim de jejuar durante quarenta dias e quarenta noites, mas antes e depois praticou a virtude da temperança com tanta naturalidade, que os seus inimigos aproveitaram para rotulá-lo caluniosamente de glutão e bebedor de vinho, amigo dos publicanos e dos pecadores. 
Amigos de Deus, 135

A tragédia da manteiga
Líamos - tu e eu - a vida heroicamente vulgar daquele homem de Deus. - E vimo-lo lutar, durante meses e anos (que "contabilidade", a do seu exame particular!), à hora do pequeno almoço: hoje vencia, amanhã era vencido... Apontava: "Não comi manteiga..., comi manteiga!".

Oxalá nós vivamos também - tu e eu - a nossa "tragédia" da manteiga.
Caminho, 205

Textos de São Josemaria - Fazer felizes os outros

 


O Nosso Senhor está na Cruz, dizendo: - Eu padeço para que os homens meus irmãos sejam felizes, não só no Céu, mas também, na medida do possível, na terra, se acatarem a Santíssima Vontade do meu Pai celestial.

Forja, 275
O apostolado, essa ânsia que vibra no íntimo do cristão, não é coisa separada da vida de todos os dias; confunde-se com o próprio trabalho, convertido em ocasião de encontro pessoal com Cristo. Nesse trabalho, ombro a ombro com os nossos colegas, com os nossos amigos, com os nossos parentes, lutando pelos mesmos interesses, podemos ajudá-los a chegar a Cristo, que nos espera na margem do lago... Antes de ser apóstolo, pescador. Também, pescador depois de ser apóstolo. Antes e depois, a mesma profissão.
Amigos de Deus, 264
Se sabes que o estudo é apostolado, e te limitas a estudar para passar, é evidente que a tua vida interior vai mal. Com esse desleixo perdes o bom espírito e, como aconteceu àquele trabalhador da parábola que escondeu com velhacaria o talento recebido, se não retificas, podes autoexcluir-te da amizade com o Senhor, para te aviltares nos teus cálculos de comodismo.
Sulco, 525

Quanto mais perto de Deus está o apóstolo, mais universal se sente; e dilata-se-lhe o coração para que caibam todos e tudo no desejo de pôr o universo aos pés de Jesus.
Caminho, 764
Os que encontram Cristo não podem fechar--se no seu ambiente. Triste coisa seria essa redução! Têm de abrir-se em leque para chegar a todas as almas. Cada um deve criar - e alargar - um círculo de amigos, no qual influa com o seu prestígio pessoal, com a sua conduta, com a sua amizade, procurando que Cristo influa por meio desse prestígio profissional, dessa conduta, dessa amizade.
Sulco, 193
Se atuares - viveres e trabalhares - face a Deus, por razões de amor e de serviço, com alma sacerdotal, ainda que não sejas sacerdote, toda a tua ação adquire um genuíno sentido sobrenatural, que mantém a tua vida inteira unida à fonte de todas as graças.
Forja, 369
- Vive a Santa Missa! Ajudar-te-á aquela consideração que fazia um sacerdote enamorado: "é possível, meu Deus, participar na Santa Missa e não ser santo?". E continuava: "ficarei metido cada dia, cumprindo um propósito antigo, na Chaga do Lado do meu Senhor!". - Anima-te!
Forja, 934
Perguntas-me o que é que poderias fazer por aquele teu amigo, para que não se encontre sozinho. Dir-te-ei o que sempre digo, porque temos à nossa disposição uma arma maravilhosa, que resolve tudo: rezar. Primeiro, rezar. E, depois, fazer por ele o que gostarias que fizessem por ti, em circunstâncias semelhantes. Sem o humilhar, é preciso ajudá-lo de tal maneira que se lhe torne fácil o que lhe é difícil.
Forja, 957
Examina com sinceridade o teu modo de seguir o Mestre. Considera se te entregaste de uma maneira oficial e seca, com uma fé que não tem vibração; se não há humildade, nem sacrifício, nem obras nos teus dias; se não há em ti mais que fachada e não estás no pormenor de cada instante..., numa palavra, se te falta Amor. Se for assim, não podes estranhar a tua ineficácia. Reage imediatamente, pela mão de Santa Maria!
Forja, 930 

Sobre as belíssimas lições das aparições de Nossa Senhora pelo Papa Pio XII


As lições espirituais das aparições

Pio XII
Estas lições, eco fiel da mensagem evangélica, fazem ressaltar de maneira impressionante o contraste que opõe os juízos de Deus à vã sabedoria deste mundo. Numa sociedade que não tem lá muita consciência dos males que a corroem, numa sociedade que vela as suas misérias e as suas injustiças sob aparências prósperas, brilhantes e descuidosas, a Virgem Imaculada, por quem o pecado jamais roçara, manisfesta-se a uma menina inocente. Com compaixão maternal percorre com o olhar este mundo redimido pelo sangue de seu Filho, onde, ai! o pecado faz cada dia tantas devastações, e por três vezes lança o seu apelo premente: "Penitência, penitência, penitência!" Gestos expressivos são, mesmo, pedidos: "Ide beijar a terra em penitência pelos pecadores". E ao gesto há que juntar a súplica: "Rogareis a Deus pelos pecadores". Tal como no tempo de João Batista, tal como no início do ministério de Jesus a mesma injunção, forte e rigorosa, dita aos homens a trilha da volta a Deus: "Arrependei-vos". E quem ousaria dizer que esse apelo à conversão do coração perdeu, nos nossos dias, a sua atualidade?

Mas poderia a Mãe de Deus vir a seus filhos senão como mensageira de perdão e de esperança? Já a água lhe jorra aos pés: "Omnes sitientes, venite ad aquas, et haurietis salutem a Domino". Àquela fonte onde, dócil, Bernadette foi a primeira a ir beber e lavar-se, afluirão todas as misérias da alma e do corpo. "Lá fui, lavei-me e vi", poderá responder, como o cego do Evangelho o peregrino agradecido. Mas, tal como para as turbas que se comprimiam em volta de Jesus, a cura das chagas físicas ali fica sendo, ao mesmo tempo que um gesto de misericórdia, o sinal do poder que o Filho do Homem tem de perdoar os pecados. Junto à gruta bendita, a Virgem nos convida, em nome de seu divino Filho, à conversão do coração e à esperança do perdão. Escutá-la-emos?

Enveredar pela trilha que Nossa Senhora nos traçou

Nessa humilde resposta do homem que se reconhece pecador reside a verdadeira grandeza desse ano jubilar. Que benefícios não estaríamos no direito de esperar para a Igreja se cada peregrino de Lourdes - e mesmo todo cristão unido de coração às celebrações do Centenário - realizasse primeiramente em si mesmo essa obra de santificação, "não em palavras e de língua, mas em atos e em verdade"? Tudo, aliás, a isso ali o convida, pois em parte alguma, talvez, tanto quanto em Lourdes, a gente se sente levado ao mesmo tempo à oração, ao esquecimento de si e à caridade. A vermos a dedicação dos padioleiros e a paz serena dos doentes; a verificarmos a fraternidade que congrega numa mesma invocação fiéis de todas as origens; a observarmos a espontaneidade do auxílio mútuo e o fervor, sem afetação, dos peregrinos ajoelhados diante da gruta, os melhores são empolgados pelo atrativo de uma vida mais totalmente dada ao serviço de Deus e de seus irmãos; os menos fervorosos tomam consciência da sua tibieza e reencontram o caminho da oração: não raras vezes os pecadores mais empedernidos e os próprios incrédulos são tocados pela graça, ou, ao menos, se são leais, não ficam insensíveis ao testemunho daquela "multidão de crentes que têm um só coração e uma só alma". 

O poder do Santo Rosário nos escritos dos Santos

“Entre o desespero e a esperança nada como um terço bem rezado.”Beato João Paulo II

“A todos os que rezarem meu Rosário com devoção, prometo minha proteção especial e grandíssimas graças.” Palavras de Nossa Senhora ao frade dominicano Alano de la Roche, e ainda: “Prega as coisas que viste e ouviste. Não tenhas nenhum receio: eu estou contigo; eu te ajudarei e a todos os meus salmodiantes.”

poder do Santo Rosário, fundamentado na contemplação dos Mistérios de Nosso Senhor e na intercessão da Santíssima Virgem, nos é precisado, entre os santos canonizados pela Santa Igreja, sobretudo por dois grandes devotos da Mãe de Deus, que são Santo Afonso Maria de Ligório, doutor da Santa Igreja, e São Luiz Maria Montfort, autor do famoso “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”.



Escreve Santo Afonso de Ligório; a respeito da intecercessão da Virgem Maria: “É impossível a tão benigna Rainha ver a necessidade de uma alma, sem ir em seu auxílio. Esta grande compaixão de Maria para com nossas misérias a leva a nos socorrer e consolar, mesmo quando não a invocamos. É o que mostrou durante sua vida, nas bodas de Caná. (…) Se Maria é tão pronta em ajudar, mesmo sem ser rogada, quanto mais o será para consolar que a invoca e a chama em seu auxílio?” (“Glórias de Maria”, cap. IV) E acrescenta: “Que seja Jesus Cristo o único Mediador de justiça, a reconciliar-nos com Deus, pelos seus merecimentos, quem o nega? Não obstante isto, compraz-se Deus em conceder-nos suas graças pela intercessão dos santos e especialmente de Maria, sua Mãe, a quem tanto deseja Jesus ver amada e honrada. (…) O que, porém, temos em vistas provar é que esta intercessão é também necessária à nossa salvação. Necessária sim, não absoluta, mas moralmente falando, como deve ser. A origem desta necessidade está na própria Vontade de Deus, o qual pelas mãos de Maria quer que passem todas as graças que nos dispensa. (…) Querendo exaltá-la de um modo extraordinário, determinou por isso o Senhor que por suas mãos hajam de passar e sejam concedidas todas as mercês dispensadas às almas remidas. (…) Não há dúvida, confessamos que Jesus Cristo é o único medianeiro de justiça, porque por seus méritos nos obtém a graça e a salvação. Mas ajuntamos que Maria é medianeira de graças, e como tal pede por nós em nome de Jesus Cristo e tudo nos alcança pelos méritos dele. Assim, pois, a intercessão de Maria, devemos de fato, todas as graças que solicitamos. (…) Assim o demônio envida todos os esforços para acabar com a devoção a Mãe de Deus nas almas. Pois, cortado esse canal de graças, muito fácil lhe torna a conquista.” (Glórias de Maria, cap. V)
Santo Afonso de Ligório

Sobre a oração da Ave-Maria e do Santo Rosário, Santo Afonso escreve: “Muito agrada à Santíssima Virgem a saudação angélica. Por ela lhe renovamos a alegria que sentiu quando São Gabriel anunciou que fora eleita para Mãe de Deus. Nessa intensão devemos saudá-la muitas vezes com a Ave-Maria. Saudai-a com a Ave-Maria, diz Tomás de Kempis, porque ela gosta muita dessa saudação. Que não lhe podemos dirigir saudação mais agradável, do que a Ave-Maria, disse-o a Virgem a Santa Matilde. Por ela será também saudado todo aquele que a saúde. São Bernardo, certa ocasião, ouviu de uma estátua da Senhora as palavras: Eu te saúdo, Bernardo! Ora, a saudação de Maria consiste sempre em alguma nova graça, diz Conrado de Saxônia. Pergunta Ricardo: É possível que Maria recuse mais uma graça a quem dela se aproxima e lhe diz: Ave, Maria? A Santa Gertrudes a Mãe de Deus prometeu a Mãe de Deus tantos auxílios na hora de morte, quantas Ave-Maria lhe houvesse recitado em vida. Alano de Rupe afirma que, ao ouvir essa saudação angélica, alegra-se o céu, treme o inferno e foge o demônio. Com efeito, atesta-o Tomás de Kempis, pois com uma Ave-Maria pôs em fuga o demônio que lhe aparecera.” (…) “Atualmente, não há devoção mais praticada pelos fiéis de toda classe, do que esta do Santo Rosário. (…) É assaz notório o bem que trouxe ao mundo esta augusta devoção. Quantos, por meio dela, têm sido livres dos pecados! Quantos conduzidos a uma vida santa! Quantos, depois de uma boa morte, foram por ela salvos! (…) É preciso recitar o terço com devoção, sem esquecer o que a Santíssima Virgem disse a Santa Eulália. Cinco dezenas, disse-lhe a Senhora, recitadas com pausa e devoção, me são mais agradáveis do que quinze, ditas às pressas e com menor devoção. Por isso, é bom recitá-lo de joelhos, diante de uma imagem da Virgem, e fazer no princípio de cada dezena um ato de amor a Jesus e Maria, pedindo-lhe alguma graça. Note-se também que é melhor recitar o Rosário em comum do que só.” (Glórias de Maria, Tratado VI)

São Luis de Montfort
Já São Luis Montfort escreve: “Foi preciso que a Santíssima Virgem aparecesse várias vezes a grandes santos muito doutos, para demonstrar-lhes o mérito desta pequena oração, como sucedeu a S. Domingos, a S. João Capistrano, ao bem-aventurado Alano de la Roche. E eles compuseram livros inteiros sobre as maravilhas e a eficácia da Ave-Maria, para conversão das almas. Altamente publicaram e pregaram que a salvação do mundo começou pela Ave-Maria, e a salvação de cada um em particular está ligada a esta prece; que foi esta prece que trouxe à terra seca e árida o fruto da vida, e que é esta mesma prece que deve fazer germinar em nossa alma a palavra de Deus e produzir o fruto de vida, Jesus Cristo (…) Aprendei que a Ave-Maria é a mais bela de todas as orações, depois do Pai-Nosso. É a saudação mais perfeita que podeis fazer a Maria, pois é a saudação que o Altíssimo indicou a um arcanjo, para ganhar o coração da Virgem de Nazaré. E tão poderosas foram aquelas palavras, pelo encanto secreto que contêm, que Maria deu seu pleno consentimento para a Encarnação do Verbo, embora relutasse em sua profunda humildade. É por esta saudação que também vós ganhareis infalivelmente seu coração, contanto que a digais como deveis. A Ave-Maria, rezada com devoção, atenção e modéstia, é, como dizem os santos, o inimigo do demônio, pondo-o logo em fuga, e o martelo que o esmaga; a santificação da alma, a alegria dos anjos, a melodia dos predestinados, o cântico do Novo Testamento, o prazer de Maria e a glória da Santíssima Trindade. A Ave-Maria é um orvalho celeste que torna a alma fecunda; é um beijo casto e amoroso que se dá em Maria, é uma rosa vermelha que se lhe apresenta, é uma pérola preciosa que se lhe oferece, é uma taça de ambrosia e de néctar divino que se lhe dá. Todas estas comparações são de santos ilustres. Rogo-vos instantemente, pelo amor que vos consagro em Jesus e Maria, que não vos contenteis de recitar a coroinha da Santíssima Virgem, mas também o vosso terço, e até, se houver tempo, o vosso rosário, todos os dias, e abençoareis, na hora da morte, o dia e a hora em que me acreditastes; e, depois de ter semeado sob as bênçãos de Jesus e de Maria, colhereis bênçãos eternas no céu.” (Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, 252-254)

Promessas de Nossa Senhora aos devotos do Santo Rosário, ditas ao frade dominicano Alano de la Roche:
1. A todos os que rezarem meu Rosário com devoção, prometo minha proteção especial e grandíssimas graças.
2. Aquele que perseverar na oração de meu Rosário receberá uma graça insigne.
3. O Rosário será uma defesa poderosíssima contra o inferno; destruirá os vícios, libertará do pecado, dissipará as heresias.
4. O Rosário fará florescerem as virtudes e as boas obras, e obterá para as almas a mais abundante misericórdia divina; fará que nos corações o amor ao mundo seja substituído pelo amor a Deus, elevando-os ao desejo dos bens celestes e eternos. Quantas almas se santificarão com esse meio!
5. Quem se confia a mim por meio do Rosário não perecerá.
6. Quem rezar meu Rosário com devoção, meditando seus mistérios, não será oprimido pela desgraça. Pecador, se converterá; justo, crescerá em graças e se tornará digno da vida eterna.
7. Os verdadeiros devotos de meu Rosário não morrerão sem os Sacramentos da Igreja.
8. Aqueles que rezam meu Rosário encontrarão durante sua vida e em sua morte a luz de Deus e a plenitude de suas graças, e participarão dos méritos dos bem-aventurados.
9. Libertarei muito prontamente do purgatório as almas devotadas a meu Rosário.
10. Os verdadeiros filhos de meu Rosário gozarão de uma grande glória no céu.
11. O que pedirem por meio de meu Rosário, obterão.
12. Aqueles que defenderem meu Rosário serão socorridos por mim em todas as suas necessidades.
13. Obtive de meu Filho que todos os membros da Irmandade do Rosário tenham por irmãos, durante a vida e na hora da morte, os santos do céu.
14. Aqueles que rezarem fielmente meu Rosário serão todos meus filhos amantíssimos, irmãos e irmãs de Jesus Cristo.
15. A devoção a meu Rosário é um grande sinal de predestinação”.
Fontes:

Nossa Senhora, pavor dos Demônios

São Domingos de Gusmão.


Quando São Domingos estava pregando o Rosário perto de Carcassona, trouxeram à sua presença um albigense que estava possesso pelo demônio, parece que mais de doze mil pessoas tinham vindo ouvi-lo pregar. Os demônios que possuíam esse infeliz foram obrigados a responder às perguntas de São Domingos, com muito constrangimento. Eles disseram que:

1 - Havia quinze mil deles no corpo desse pobre homem, porque ele atacou os quinze mistérios do Rosário;
2 - Eles continuaram a testemunhar que, quando São Domingos pregava o Rosário ele impunha medo e horror nas profundezas do inferno e que ele era o homem que eles mais odiavam em todo o Mundo, isto por causa das almas que ele arrancou dos demônios através da devoção do Santo Rosário;



Eles então revelaram várias outras coisas.

São Domingos colocou o seu Rosário em volta do pescoço do albigense e pediu que os demônios lhe dissessem quem de todos os santos nos Céus eles mais temiam, e quem deveria ser, portanto mais amado e reverenciado pelos homens.
Nesse momento eles soltaram um gemido inexprimível no qual a maioria das pessoas caiu por terra desmaiando de medo... e eles disseram: " Domingos, nós te imploramos, pela paixão de Jesus Cristo e pelos méritos de sua Mãe e de todos os santos, deixe-nos sair desse corpo sem que falemos mais, pois os anjos responderão sua pergunta a qualquer momento...
São Domingos ajoelhou-se e rezou à Nossa Senhora para que ela forçasse os inimigos a proclamarem a verdade completa e nada mais que a verdade.
Mal tinha terminado de rezar viu a Santíssima Virgem perto de si, rodeada por uma multidão de anjos. Ela bateu no homem possesso com um cajado de ouro que segurava e disse: "Responda ao meu servo Domingos imediatamente".
Então os demônios começaram a gritar:

"Oh, vós, que sois nossa inimiga, nossa ruína e nossa destruição, porque desceste do Céus só para nos torturar tão cruelmente? Oh, Advogada dos pecadores, vós que os tirais das presas do inferno, vós que sois o caminho certeiro para o Céus, devemos nós, para o nosso próprio pesar, dizer toda a verdade e confessar diante de todos quem é que é a causa de nossa vergonha e nossa ruína? Oh, pobres de nós, príncipes da escuridão: então, ouçam bem, vocês cristãos: a Mãe de Jesus Cristo é todo-poderosa e ela pode salvar seus servos de caírem no Inferno. Ela é o Sol que destrói a escuridão de nossa astúcia e sutileza. É ela que descobre nossos planos ocultos, quebra nossas armadilhas e faz com que nossas tentações fiquem inúteis e sem efeito.

Nós temos que dizer, porém de maneira relutante, que nem sequer uma alma que realmente perseverou no seu serviço foi condenada conosco; um simples suspiro que ela oferece à Santíssima Trindade é mais precioso que todas as orações, desejos e aspirações de todos os santos.
Nós a tememos mais que todos os santos nos Céus juntos e não temos nenhum sucesso com seus fiéis servos. Muitos cristãos que a invocam quando estão na hora da morte e que seriam condenados, de acordo com os nossos padrões ordinários, são salvos por sua intercessão.

Oh, se pelo menos essa Maria (assim era na sua fúria como eles a chamaram)não tivesse se oposto aos nossos desígnios e esforços, teríamos conquistado a igreja e a teríamos destruído há muito tempo atrás; e teríamos feito que todas as Ordens da Igreja caíssem no erro e na desordem. Agora, que somos forçados a falar, também lhe diremos isto: ninguém que persevera ao rezar o Rosário será condenado, porque ela obtém para seus servos a graça da verdadeira contrição por seus pecados e por meio dele, eles obtêm o perdão e a misericórdia de Deus"


Fonte: Livro O Segredo do Rosário - São Luís Maria G. de Montfort - páginas.95 à 97.

Carta do Pe. Nicola Bux a Dom Fellay e aos Padres da Fraternidade Sacerdotal São Pio X.

Excelência Reverendíssima,
Caríssimos Irmãos,


Padre Nicola Bux é também consultor
para as Congregações para a Doutrina da Fé,
 Causa dos Santos e Culto Divino,
assim como do Ofício para as Celebrações
Litúrgicas Pontifícias.
A fraternidade cristã é mais forte que a carne e o sangue, pois nos oferece, graças à Divina Eucaristia, um antegozo do paraíso.
Cristo nos convida a fazer a experiência da comunhão, é nisto que consiste o nosso “eu”. A comunhão é estimar a priori o seu próximo, pois temos em comum o único Salvador. Consequentemente, a comunhão está pronta a todo sacrifício em nome da unidade; e esta unidade deve ser visível, como nos ensina a última invocação da oração dirigida por Nosso Senhor a seu Pai – “ut unum sint, ut credat mundus” –, porque ela é o testemunho decisivo dos amigos de Cristo.
É inegável que numerosos fatos do Concílio Vaticano II e do período que o seguiu, vinculados à dimensão humana deste acontecimento, representaram verdadeiras calamidades e causaram profundas dores a grandes homens de Igreja. Mas Deus não permite que a Sua Santa Igreja possa chegar à auto-destruição.
Não podemos considerar a dureza do fator humano sem ter confiança no fator divino, ou seja, na Providência que, ao mesmo tempo em que respeita a liberdade humana, guia a história, e em especial a história da Igreja.
A Igreja é, ao mesmo tempo, instituição divina, divinamente garantida, e produto humano. O aspecto divino não prejudica o humano — personalidade e liberdade — e nem necessariamente o inibe; o aspecto humano, permanecendo íntegro, e mesmo comprometendo, não prejudica nunca o divino.
Por razões de Fé, mas também devido a confirmações, mesmo lentas, que observamos no âmbito histórico, cremos que Deus preparou e continua a preparar, ao longo destes anos, homens dignos de remediar os erros e quedas que todos nós lamentamos. Já aparecem, e aparecerão sempre mais, santas obras isoladas umas das outras, mas ligadas à distância por uma estratégia divina cuja ação constitui um plano ordenado, como aquele ocorrido miraculosamente na época da dolorosa revolta de Lutero.
Essas intervenções divinas parecem se multiplicar na medida em que os fatos se complicam. O futuro o demonstrará, como já estamos convencidos, e já parece romper a aurora.
Durante alguns momentos, a incerta aurora luta contra as trevas, lentas em se retirar, mas quando ela aponta, sabemos que o sol está lá e segue inevitavelmente o seu curso no céu.
Com Santa Catarina de Sena, queremos vos dizer: “Vinde a Roma com toda segurança”, junto à casa do Pai comum que nos foi dado como princípio e fundamento visíveis e perpétuos da unidade católica.
Vinde tomar parte neste futuro abençoado cuja aurora já se entrevê, apesar das trevas persistentes.
A vossa recusa aumentaria as trevas, e não a luz. Muitos são os raios de luz que já admiramos, a começar pelos da grande restauração litúrgica operada pelo Motu Proprio “Summorum Pontificum”, que suscita no mundo inteiro um grande movimento de adesão por parte todos aqueles, em particular os jovens, que desejam glorificar o culto do Senhor.
Monsenhor Lefebvre fundador da FSSPX
Como não considerar, além disso, os outros gestos concretos e cheios de significado do Santo Padre, como o levantamento das excomunhões dos bispos ordenados por Dom Lefebvre, a abertura de um debate público sobre a interpretação do Concílio Vaticano II à luz Tradição e, para isso, a renovação da Comissão Ecclesia Dei?


Restam, certamente, perplexidades, pontos a aprofundar ou esclarecer, como o ecumenismo e o diálogo interreligioso (que, aliás, já foi objeto importante de um esclarecimento trazido pela declaração Dominus Jesus da Congregação para a Doutrina da Fé, de 6 de agosto de 2000) ou a maneira como é compreendida a liberdade religiosa.
Também sobre estes temas, a vossa presença canonicamente garantida na Igreja trará mais luz.
Como não pensar na contribuição que poderíeis trazer, graças aos vossos recursos pastorais e doutrinais, à vossa capacidade e à vossa sensibilidade, ao bem de toda a Igreja?
Eis o momento oportuno, a hora favorável para retornar. Timete Dominum transeuntem: não deixeis passar o momento da graça que o Senhor vos oferece, não deixeis com que passe ao vosso lado sem reconhecê-lo.
O Senhor concederá outro?
Não deveremos comparecer todos um dia diante ao Seu Tribunal e responder não somente pelo mal cometido, mas sobretudo por todo bem que poderíamos fazer e que não realizamos?
O coração do Santo Padre treme: ele vos espera com ansiedade porque vos ama, porque a Igreja necessita de vós para uma profissão de fé comum frente a um mundo sempre mais secularizado e que parece voltar irremediavelmente as costas ao seu Criador e Salvador.
Na plena comunhão eclesial, com a grande família que constitui a Igreja Católica, a vossa voz não será asfixiada, o vosso comprometimento não será negligenciável nem negligenciado, mas poderá dar, com o de tanto outros, frutos abundantes que de outra forma permaneceriam desperdiçados.
A Imaculada nos ensina que muitas das graças acabam perdidas porque não são pedidas: estamos convencidos que, respondendo favoravelmente à oferta do Santo Padre, a Fraternidade Sacerdotal São Pio X se tornará um instrumento para acender novos raios das mãos de nossa Mãe celestial.
Que São José, esposo da Bem-Aventurada Virgem Maria, Patrono da Igreja universal, neste dia que lhe é dedicado, queira inspirar e apoiar as vossas resoluções: “Vinde a Roma com toda segurança”.
Roma, 19 de Março de 2012

Festa de São José.

Pe. Nicola Bux

Vinde a mim, mas bem comportados!

Uma editora italiana lançou um livro com normas de comportamento para os fiéis: “Um pouco de etiqueta não faz mal”. São orientações para os que forem participar de atos religiosos. Dessas orientações, escolho algumas. Os comentários são meus.
            1ª) “Cuide da casa de Deus como se ela fosse a sua casa.” Nossas igrejas são construídas com a colaboração de toda a comunidade. Quem já participou de uma comissão de construção sabe quanto sacrifício é necessário até se chegar à sua inauguração. Também a manutenção de uma igreja exige muita atenção e gastos. Por isso, cuidar do que foi conseguido com muito trabalho é um respeito para com os que colaboraram, além, é claro, de ser uma demonstração de atenção para com uma obra que passou a ser consagrada ao Senhor.
            2ª) “Quando entrar numa igreja, cumprimente o dono da casa.” A casa do Senhor é uma casa de oração. Não entramos nela para nos desligar das preocupações do mundo; entramos ali para levar ao Senhor nossas preocupações e colocá-las em suas mãos; entramos para louvá-lo e agradecer-lhe os dons recebidos; ou, humildemente, para pedirmos seu perdão por nossas infidelidades. Na igreja, o Senhor deve ser o centro de nossas atenções.
            3ª) “Vista-se com decência, quando participar de uma cerimônia religiosa.” Deveria ser óbvio, mas para algumas pessoas não o é: nem toda roupa é adequada para qualquer lugar. Ninguém vai à praia de “smoking” nem ao cinema em trajes de banho. Há roupas que podem ser adequadas para uma festa de aniversário, mas não servem para se ir a um velório. Um pouco de bom senso (e de respeito!) não faria nada mal, quando se trata de pensar na roupa a ser usada em uma celebração religiosa – em casamentos, inclusive!
            4ª) “Procure chegar na hora certa!” Normalmente, as celebrações começam na hora marcada. Esse “normalmente” vai por conta dos casamentos, cujos horários acabam dependendo das noivas (leia-se: cabeleireiras, arrumadeiras etc.). Para uma boa participação, é importante a concentração. Chegar antes é garantir a possibilidade de um tempo para a oração pessoal. Nesse ponto, um pouco de organização da própria vida só trará benefícios para a fé.
            5ª) “Participe ativamente de todo o ato religioso.” As celebrações são expressões da oração comunitária. Jesus nos garantiu sua presença quando duas ou três pessoas se reunirem em seu nome (cf. Mt 18,20). Imagine-se a força de sua presença quando formos quinhentos, mil ou dois mil. Por isso, é importante nossa expressão de unidade com todos os que estão ali conosco, naquele momento de prece.
            6ª) “Tome conta das crianças, para evitar que elas perturbem muito.” É bom, é muito bom levar as crianças para a igreja. Elas têm uma incrível capacidade de relacionar-se com Deus – basta que alguém as eduque para isso. Que elas nem sempre se sentem à vontade em uma celebração, também é normal. O que não convém é permitir que elas, sistematicamente, distraiam os que estão em sua proximidade. Afinal, são simpáticas, bonitas e engraçadinhas, e prendem mais a atenção do que o melhor orador, mesmo que sacro…
            7ª) “Terminada a celebração, colabore com o clima de concentração e oração do ambiente.” Quantas pessoas, terminada a missa ou outra celebração, gostam de ficar na igreja. E isso é bom! A igreja tem o dom de facilitar a oração e, num mundo tão dispersivo com o nosso, é importante que se aproveite ao máximo as oportunidades que nos forem concedidas para momentos assim. No Templo de Jerusalém, Jesus lembrou as palavras do Salmista: “Minha casa é uma casa de oração” (Mt 21,13).
            8ª) “Lembre-se de desligar o celular antes de começar a celebração!” Preciso fazer algum comentário?… Não preciso, mas aproveito para fazer uma pergunta: Há algo que distrai (ou irrita) mais, em uma celebração, do que o toque de um celular?…
            Em síntese: uma celebração religiosa não é apenas um ato religioso; é, também, um ato social. É possível que, lendo essas regras de etiqueta, você pense em outras que poderiam ser acrescentadas. Se for o caso – e tiver a sua colaboração! – voltarei ao assunto…
Dom Murilo Krieger, scj
Arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil




QUARESMA TEMPO DE CONVERSÃO
Quaresma é o tempo propício de escuta da Palavra de Deus
de conversão e de reconciliação com os irmãos e com Deus 

O que é a Quaresma

O tempo quaresmal é o tempo litúrgico de conversão estabelecido pela Igreja para que nos preparemos para a grande festa da Páscoa. É tempo de nos arrependermos dos nossos pecados e de mudar algo em que precisamos ser melhores para viver mais próximos de Cristo. A Quaresma dura 40 dias; começa na Quarta-feira de Cinzas e termina no Domingo de Ramos. Ao longo desse período, sobretudo na liturgia do domingo, fazemos um esforço para recuperar o ritmo e o chamado de verdadeiros filhos de Deus. A cor litúrgica desse período é o roxo, que significa luto e penitência. É um período de reflexão, de penitência, de conversão espiritual em preparação para o mistério pascal. Na Quaresma, Cristo nos convida a mudar de vida. A Igreja nos convida a viver esse tempo como um caminho a Jesus Cristo, escutando a Palavra de Deus, orando, compartilhando com o próximo e praticando boas obras. Ela nos convida a viver atitudes cristãs a fim de que nos pareçamos mais com Jesus Cristo, já que por ação dopecado, nos afastamos de Deus. Por isso, a Quaresma é o tempo especial do perdão e da reconciliação fraterna. A cada dia, durante a vida, devemos retirar de nosso coração o ódio, o rancor, a inveja, os zelos que se opõem ao nosso amor a Deus e aos irmãos. Nesse tempo, aprendemos a conhecer e a apreciar a cruz de Jesus. Com isso aprendemos também a tomar nossa cruz com alegria para alcançar a glória da ressurreição.

Duração da Quaresma
A duração do período quaresmal está baseada no símbolo que envolve o número quarenta na Bíblia, na qual são narrados os quarenta dias do dilúvio, os quarenta anos da peregrinação do povo judeu pelo deserto, os quarenta dias de Moisés e de Elias na montanha, os quarenta dias em que Jesus passou no deserto antes de começar Sua vida pública, os 400 anos que durou o exílio dos judeus no Egito. NaBíblia, o número quatro simboliza o universo material, seguido do número zero significa o tempo de nossa vida na terra, seguido de provações e dificuldades. A vivência da Quaresma data do século IV, quando esse tempo passa a ser dedicado, de forma especial, à penitência e à renovação para toda aIgreja, com a prática do jejum e da abstinência. Conservada com bastante vigor, ao menos em um princípio, nas Igrejas do Oriente, a prática penitencial desse período tem sido cada vez mais abrandado no Ocidente, mas deve-se observar um espírito penitencial e de conversão.

O Tempo da Quaresma

Um tempo com características próprias.

A Quaresma é o tempo que precede e nos prepara para a celebração da Páscoa. Período de escuta daPalavra de Deus e de conversão, de preparação e de memória do batismo, de reconciliação com Deus e com os irmãos, de vivência mais frequente e aprofundada das armas da penitência cristã: a oração, ojejum e a esmola (cf. Mt 6,1-6.16-18).
De maneira semelhante ao povo de Israel, que partiu durante quarenta anos pelo deserto para ingressar na Terra Prometida, a Igreja, o novo povo de Deus, prepara-se durante quarenta dias para celebrar aPáscoa do Senhor. Embora seja um tempo penitencial, não é um período triste e depressivo. Trata-se de uma época especial de purificação e de renovação da vida cristã para podermos participar com maior plenitude e gozo do mistério pascal do Senhor.
A Quaresma é um tempo privilegiado para intensificar o caminho da própria conversão. Esse caminho supõe que cooperemos com a graça divina para que o "homem velho", existente em nosso interior, morra gradativamente. De forma a rompermos com o pecado, que habita em nossos corações, e nos afastarmos de tudo aquilo que nos separa do plano de Deus, e por conseguinte, de nossa felicidade e realização pessoal.
A Quaresma é um dos quatro tempos fortes do ano litúrgico e isso deve ser refletido com intensidade em cada um dos detalhes de sua celebração. Quanto mais forem acentuadas suas particularidades, tanto mais intensamente poderemos viver toda sua riqueza espiritual.
Portanto, é preciso se esforçar, entre outras coisas, para entender e viver bem esse tempo:
- Para que se compreenda que, neste tempo, são distintos tanto o enfoque das leituras bíblicas (naSanta Missa praticamente não há leitura contínua), como os textos eucológicos (próprios e determinados quase sempre de modo obrigatório para cada uma das celebrações).
- Para que os cantos sejam totalmente distintos dos habituais e reflitam a espiritualidade penitencial, própria desse período.
- Por obter uma ambientação sóbria e austera, refletindo o caráter de penitência quaresmal.

Sentido da Quaresma

A primeira coisa a ser dita a respeito desse tempo litúrgico é que a finalidade da Quaresma é ser um tempo de preparação para a Páscoa. Por isso é definida “como caminho para a Páscoa”. Esse tempo não é um período fechado em si mesmo ou um tempo “forte” ou importante em si mesmo.
É, antes de tudo, um tempo de preparação para a Páscoa. O tempo quaresmal, como preparação para a Páscoa, se apoia em dois pilares: de um lado, a contemplação da Páscoa de Jesus; de outro, a participação pessoal na Páscoa do Senhor por intermédio da penitência e da celebração e da preparação dos sacramentos pascais –batismoconfirmação, reconciliação, Eucaristia-, com os quais incorporamos nossa vida à Páscoa do Senhor Jesus.
O ato de nos incorporarmos ao “mistério pascal” de Cristo supõe participar do mistério de Sua Morte eRessurreição. Não esqueçamos que o batismo nos configura com a Morte e Ressurreição do Senhor. A Quaresma procura fazer com que essa dinâmica batismal (morte para a vida) seja vivida mais profundamente nesse tempo, para que o nosso pecado vá morrendo e sejamos ressuscitados comCristo para a verdadeira vida, pois o Senhor nos assegura que se o grão de trigo morrer dará fruto.
A esses dois aspectos há que se acrescentar outro ponto mais eclesial: a Quaresma é tempo apropriado para cuidar da catequese e oração das crianças e jovens que se preparam para aconfirmação e a primeira comunhão e para que toda a Igreja ore pela conversão dos pecadores.

Vivendo a Quaresma

Durante esse tempo especial de purificação e santificação, contamos com diversos meios propostos pela Igreja que nos ajudam a viver a dinâmica quaresmal.
Antes de tudo, a vida de oração é condição indispensável para o encontro com Deus. Na oração, quando o cristão inicia um diálogo íntimo com o Senhor, a graça divina penetra em seu coração e, a semelhança da Virgem Maria, se abra à ação do Espírito cooperando com ela com sua resposta livre e generosa (cf.Lc 1,38).
Como também devemos intensificar a escuta e a meditação atenta à Palavra de Deus, a assistência frequente ao sacramento da reconciliação e a Eucaristia, e mesmo a prática do jejum, segundo as possibilidades de cada um.
A mortificação e a renúncia nas circunstâncias ordinárias de nossa vida também constituem um meio concreto para viver o espírito de Quaresma. Não se trata tanto de criar ocasiões extraordinárias, mas de saber oferecer aquelas circunstâncias cotidianas que nos são incômodas, de aceitar com alegria os diferentes contratempos que nos são apresentados no dia a dia. Da mesma maneira, o saber renunciar a certas coisas nos ajuda a viver o desapego e o desprendimento. Dentre as diversas práticas quaresmais que a Igreja nos propõe, a vivência da caridade ocupa um lugar especial. Assim nos recorda São Leão Magno: "Estes dias de Quaresma nos convidam de maneira apremiante ao exercício da caridade; se desejamos chegar à Páscoa santificados em nosso ser, devemos por um interesse especialíssimo na aquisição desta virtude, que contém em si as demais e cobre multidão de pecados".
Esta vivência da caridade deve ser vivida de maneira especial com aqueles a quem temos mais próximos, no ambiente concreto em que nos movemos. Assim, vamos construindo no outro "o bem mais precioso e efetivo, que é o da coerência com a própria vocação cristã" (João Paulo II)

Como viver a Quaresma

1. Arrepender-se dos pecados e confessar-se
Pensar em que ofendi a Deus, Nosso Senhor, se me dói tê-Lo ofendido, se estou realmente arrependido. Este é um bom momento do ano para realizar uma confissão preparada e de coração. Revise os mandamentos de Deus e da Igreja para poder fazer uma boa confissão. Sirva-se de um livro para estruturar sua confissão. Busque tempo para realizá-la.
2. Lutar para mudar:
Analise sua conduta para conhecer em que está falhando. Faça propósitos para cumprir dia a dia e revise à noite se os alcançou. Lembre-se de não colocar muitos propósitos porque será muito difícil cumpri-los todos. Deve-se subir as escadas degrau por degrau, não se pode subi-la de uma só vez. Conheça qual é o seu defeito dominante e faça um plano para lutar contra ele. Seu plano deve ser realista, prático e concreto para poder cumpri-lo.
3. Fazer sacrifícios:
A palavra "sacrifício" vem do latim sacrum-facere e significa "fazer sagrado". Então, fazer um sacrifício é fazer alguma coisa sagrada, quer dizer, oferecê-la por amor a Deus, por amá-Lo, coisas que dão trabalho. Por exemplo, ser amável com um vizinho com quem você não simpatiza ou ajudar alguém em seu trabalho. A cada um de nós há algo que nos custa fazer na vida todos os dias. Se oferecemos isso a Deus por amor, estamo fazendo um sacrifício.
Aproveite estes dias para rezar, para conversar com Deus, para dizer que O ama e que quer estar com Ele. Pode ser útil um bom livro de meditação para Quaresma. Você pode ler na Bíblia passagens relacionadas com esse período.

Jejum e abstinência

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jejum consiste em fazer uma só refeição completa ao dia. A abstinênica consiste em não comer carne. A Quarta-feira de Cinzas e a Sexta-feira Santa são dias de abstinência ejejum, que é obrigatória a partir dos quatorze anos e o jejumdos dezoito aos cinquenta e nove anos de idade.
O objetivo dessas práticas cristãs é fazer com que todo nosso ser (alma e corpo) participe de um ato por meio do qual reconheça a necessidade de fazer obras com as quais reparemos o dano causado com nossos pecados e para o bem da Igreja.
jejum e a abstinênica podem ser trocados por outro sacrifício, dependendo do que ditem as Conferências Episcopais de cada país, pois elas têm autoridade para determinar as diversas formas de penitências cristãs.
Vídeos sobre a Quaresma

Por que o jejum?

É necessário dar uma profunda resposta a esta pergunta, para que fique clara a relação entre o jejum e a conversão, isto é, a transformação espiritual que aproxima o homem de Deus.
O abster-se de comida e bebida tem com como fim introduzir na existência do homem não somente o equilíbrio necessário, mas também o desprendimento do que se poderia definir como "atitude consumística".Tendo em vista que o consumismo é uma das características mais marcantes da civilização ocidental. O homem, cada vez mais voltado para os bens materiais, muito frequentemente abusa deles. Essa civilização consumista faz uso dos bens materiais não somente para que estes lhe sirvam para o desenvolvimento de atividades criativas e úteis, mas cada vez mais para satisfazer-lhes os sentidos, a excitação que deriva deles, o prazer, uma multiplicação de sensações cada vez mais intensas.
O homem de hoje precisa abster-se de muitos meios de consumo, de estímulos, de satisfação dos sentidos para voltar a ser como Deus o criou. Jejuar significa abster-se de algo. O homem cresce e adquire autodomínio ao dizer a si mesmo: "Não".
Não é uma renúncia simplesmente; o objetivo dessa prática é o desenvolvimento mais equilibrado de si mesmo para a vivência mais aprofundada dos valores superiores e a conquista do autocontrole.

Exame de consciência

Precisamente por sermos pecadores, ficamos cegos diante de nossos pecados. Satanás quer nos fazer ver que não há mal no que fazemos. Então o coração se endurece, torna-se insensível às exigências do amor. Por isso é tão importante a conversão do coração.
"Por isso, como diz o Espírito Santo: "Se escutardes hoje MINHA voz, não endureceis o coração... Atenção irmãos! Que nenhum de vós tenhais um coração mau e incrédulo [...]" (Hb 3).
Deus é um Pai amoroso que nos faz ver o pecado para nos dar a graça do arrependimento e nos perdoar. Porque nos quer livres. No entanto, o demônio não quer que vejamos nosso pecado. Mas se procurarmos o caminho de Deus, o maligno tratará de nos acusar com nossos pecados para que desanimemos e voltemos atrás. Podemos discernir então a diferença. Deus mostra o pecado para libertar e perdoar; o demônio o esconde, mas quando o mostra é para que nos desesperemos e nos distanciemos de Senhor. Devemos rejeitar energicamente estes pensamentos e ir à confissão com toda confiança no perdão de Deus PaiDeus SEMPRE nos perdoa quando há arrependimento.
É muito proveitoso fazer exame de consciência diário e também, com toda humildade, nos abrir a que pessoas próximas de nós nos corrijam. "Se examinássemos a nós mesmos, não seríamos condenados" (I Cor. 11, 31)
O exame se faz diante de Deus, escutando Sua voz na consciência.

Preparação para a confissão

  • Preparação remota: Educamo-nos na fé pelo estudo da Palavra de Deus, do Catecismo e demais obras e documentos da Igreja, assim como com a leitura e a imitação da vida dos santos, a vivência dos sacramentos, a participação na Santa Missa e o seguimento aos ensinamentos de Cristo.
  • Preparação imediata: Fazer o exame de consciência antes da confissão. Ir a um lugar tranquilo, preferivelmente diante do sacrário, para orar. Só Deus pode iluminar nossa realidade e nos dar os meios para responder à graça.
Contemplamos a vida de Jesus e Seu amor manifesto na cruz. "Contemplai ao que transpassaram" (cf. Jo 19,37). Como tenho respondido a tanto amor e a tantas graças? Examinamos nossa vida diante da lei de Deus. Por isso ajuda fazer um exame escrito que nos recorde o que esquecemos. Recordamos que não se trata de sugestões, Deus nos deu MANDAMENTOS. Quebrá-los é quebrar nossa aliança com Deus e cair em pecado.
Não se trata tão somente de enumerar pecados, mas sim de descobrir a atitude do coração e com dor por nossos pecados, FAZER O FIRME PROPÓSITO DE NÃO VOLTAR A COMETÊ-LOS.
Sempre há áreas nas quais somos mais fracos e requerem atenção especial, mas se compreendermos que Cristo - não a cultura - é o exemplo que debvemos seguir –, veremos que em tudo temos muito o que crescer.
confissão só pode ser feita diante de um sacerdote.
Exame de conciência com base nas três rupturas
Examine-se - ajudado por estas perguntas - quais pecados você cometeu desde sua última confissão? Trate de não ficar no exterior, mas sim nas atitudes do coração e as omissões.
  • Ruptura com Deus: Amo verdadeiramente a Deus com todo meu coração ou vivo mais apegado às coisas materiais? Preocupei-me por renovar minha fé cristã com a ajuda da oração, da participação ativa e atenta da Santa Missa dominical, a leitura da Palavra de Deus, etc.? Guardo os domingos e dias de festa da Igreja? Cumpri com o preceito anual da confissão e a comunhão pascal? Tenho uma relação de confiança e amizade com Deus, ou cumpro somente com ritos externos? Professei sempre, com vigor e sem temores, minha fé em Deus? manifestei minha condição de cristão na vida pública e privada? Ofereço ao Senhor meus trabalhos e alegrias? Recorro a Ele constantemente, ou só O busco quando necessito d'Ele? Tenho reverência e amor para o nome de Deus ou O ofendo com blasfêmias, falsos juramentos ou usando Seu santo nome em vão?
  • Ruptura comigo mesmo: Sou soberbo e vaidoso? Considero-me superior a outros? Procuro aparentar algo que não sou para ser valorizado pelos outros? Aceito a mim mesmo ou vivo na mentira e no engano? Sou escravo de meus complexos? Que uso tenho feito do tempo e dos talentos que Deus me deu? Eu me esforço por superar os vícios e inclinações más como a preguiça, a avareza, a gula, a bebida, a droga? Caí na luxúria com palavras e pensamentos impuros, com desejos ou ações impuras? Realizei leituras ou assisti a espetáculos que reduzem a sexualidade a um mero objeto de prazer? Caí na masturbação ou a fornicação? Cometi adultério? Recorri a métodos artificiais para o controle da natalidade?
  • Ruptura com os irmãos e com a criação: Amo de coração o meu próximo como a mim mesmo e como o Senhor Jesus me pede que O ame? Em minha família colaboro em criar um clima de reconciliação com paciência e espírito de serviço? Tenho sido um filho obediente a meus pais, prestando-lhes respeito e ajuda em todo momento? Preocupo-se em educar na vida cristã meus filhos e de respirá-los em seu compromisso de vida com o Senhor Jesus? Abusei de meus irmãos mais fracos e indefesos, usando-os para meus interesses? Insultei meu próximo? Escandalizei-o gravemente com palavras ou com ações? Se me ofenderam, sei perdoar, ou guardo rancor e desejo de vingança? Compartilho meus bens e meu tempo com os mais pobres, ou sou egoísta e indiferente à dor de outros? Participo das obras de evangelização e promoção humana da Igreja? Eu me preocupo pelo bem e a prosperidade da comunidade humana em que vivo ou passo a vida preocupado tão somente comigo mesmo? Tenho cumprido com meus deveres cívicos? Pago meus tributos? Sou invejoso? Sou fofoqueiro e enganador? Difamei ou caluniei alguém? Violei segredos? Fiz julgamentos temerários sobre outros? Sou mentiroso? Causei algum dano físico ou moral a outros? Inimizei-me com ódios, ofensas ou brigas com meu próximo? Tenho sido violento? Procurei ou induzi alguém ao aborto? Tenho sido honesto em meu trabalho? Usei corretamente a criação ou abusei dela com fins egoístas? Roubei? Sou justo na relação com meus subordinados tratando-os como eu gostaria de ser tratado por eles? Participei do negócio ou consumo de drogas? Caí na fraude ou estelionato? Recebi dinheiro ilícito?
QUERO!!!
  • Quero ter alguém pra dividir o meu espaço
    Quero um colo, um carinho, um abraço.
    Quero ter alguém
    Que me faça acreditar que ainda existe um grande amor
    Que me traga meu sorriso que o tempo apagou...

A conversão traz o perdão de Deus


O pecado é uma palavra, um ato ou um desejo contrários à lei eterna. "É uma falta contra
A  razão, a verdade, a consciência reta; é uma falta ao amor verdadeiro 
Para com Deus e para com o próximo, por causa de um apego perverso a certos bens. 
Fere a natureza do homem e ofende a solidariedade humana." 
(Catecismo da Igreja Católica, n. 1849).
Por este motivo, a conversão traz ao mesmo tempo o perdão de Deus e
a reconciliação com a Igreja, e é isso que o sacramento da penitência e 
da reconciliação exprime e realiza liturgicamente


"O dízimo é uma restituição a Deus"


Publicado 2009/06/22
Author : Pe. Caio Newton de Assis Fonseca


Ele era contra o dízimo e hoje é um dos seus mais ardorosos propagadores. Ao longo de quase 30 anos de atividades como missionário leigo, realizou trabalhos de conscientização e organização em mais de 4 mil comunidades no Brasil, nos Estados Unidos e no Peru. Trata do assunto com objetividade e clareza nos onze livros que escreveu. Um deles, "Dízimo e Oferta na Comunidade", conta já com 2,5 milhões de exemplares.
Pe. Caio Newton de Assis Fonseca


Arautos do Evangelho: Como nasceu sua vocação de "Apóstolo do Dízimo"?


Antoninho Tatto: Antigamente eu era contra o dízimo e qualquer outra forma de participação na Igreja.Sou de família pobre, sem facilidades econômicas, e um fato acontecido em minha infância deu-me uma visão deturpada do sentido de colaborar com a Igreja. Daí nasceu um "bloqueio". 
Muitos anos depois, tornei-me administrador de empresas, quer dizer, passei a auxiliar empresários a resolver problemas financeiros e administrativos. Em determinado momento, comecei a observar as dificuldades econômicas pelas quais passava a Igreja, e me questionei: "Deus me deu o dom, a capacidade de ajudar pessoas no campo financeiro. Não será minha obrigação ajudar também a Igreja na situação em que ela se encontra?" 
Mas deparei-me então com aquele "bloqueio"...Eu não queria contribuir e, sobretudo, não queria concordar com a obrigação do dízimo.


Esse problema atinge muitos outros católicos. E como o senhor o resolveu?
Bem, o assunto ficou girando em minha cabeça, e resolvi consultar alguns padres amigos a esse respeito. No caso de decidir-me a colaborar, eu queria saber quanto deveria dar.Mas as respostas não me satisfaziam.Segundo me parecia, a percentagem estabelecida pela Pastoral do Dízimo era muito elevada. Infelizmente, é assim: quando uma pessoa não está conscientizada, qualquer quantia, por menor que seja, sempre parece exagerada...
Ocorreu-me, então, fazer uma pesquisa na Bíblia sobre a questão. O que diz a Sagrada Escritura a respeito do dízimo? Comecei a ler, a tomar notas e a fazer curtas reflexões. Deus começou a agir, e os textos bíblicos foram aparecendo e me impressionando.


Daí lhe veio a decisão de se tornar apóstolo do dízimo?
Na realidade, a pesquisa preparou a hora de Deus, a hora da graça. Eu fui pregar numa comunidade, numa favela, e ali ouvi alguns testemunhos de pessoas pobres. Essa experiência levantou em mim algumas questões.
Eu estava com o assunto ainda não resolvido quando em certo momento vi uma viúva muito pobre fazer uma oferta, de um valor bem pequeno.E fiquei bastante constrangido, pois era a mesma quantia que eu tinha dado.Imediatamente pensei: "Se essa viúva tão pobre contribuiu com esse valor, com quanto deveria eu ter contribuído?" 
Aí dei-me conta de que minhas pesquisas me haviam feito conhecer tudo sobre o dízimo, mas eu não tinha a consciência sobre a importância do dízimo, como acontecia com aquela senhora. Entendi então que o apelo para ser dizimista era mais profundo: não basta conhecer, é preciso amar.


E assim o senhor iniciou o caminho... Nas coisas de Deus não há coincidências.Existe, isto sim, a misericórdia, a Providência Divina.
Procurei minha esposa e lhe propus de sermos dizimistas. Ela sugeriu darmos dez por cento de nossa renda. Respondi que não era possível, pois a doença de nossa filha exigia de nós um gasto muito considerável.Assim, apesar de ela insistir, começamos colaborando com três por cento. Passados poucos meses, percebemos que aquele valor não nos fazia falta, e podíamos cuidar de nossa filha com a mesma atenção de antes. Elevamos, pois, nossa colaboração para dez por cento. Nesse mesmo mês, nossa filha curou-se! 
Fico emocionado ao relatar esse caso, e creio que Deus permitiu tudo isso pelo fato de eu ser tão contrário ao dízimo, e que seu grande propósito era o de levar-me a dar esse testemunho.
Não foi nada, não foi ninguém que mudou a minha vida, ou me transformou em dizimista. Foi Deus quem me converteu.


O senhor está focalizando a questão do dízimo muito mais sob um aspecto espiritual que financeiro.
Sim! Eu até costumo dizer que a Pastoral do Dízimo não foi feita para resolver os problemas financeiros das paróquias... Claro, para isso existem o marketing e vários tipos de ajuda.Dízimo não é arrecadação financeira; é ação pastoral, quer dizer, um trabalho de evangelização para todos se sentirem mais Igreja. Se essa campanha não tiver esse objetivo, tornase meramente financeira.
A proposta da Igreja Católica é que, através da participação de cada pessoa, a comunidade se fortaleça e testemunhe a fé. Por isso, quem não dá o dízimo, não está sonegando dinheiro que deveria dar à Igreja. Está sonegando a fé! Dinheiro pode ser mandado para qualquer lugar, o dízimo não; e essa é a grande diferença entre dízimo e dinheiro. Para dar dinheiro, basta tê-lo, mas o dízimo é uma expressão de comunidade, supõe a fé.


E esse apostolado tem produzido bons resultados?


Sem dúvida. A proposta tem sido facilmente assimilada, e impressiona ver comunidades com grandes dificuldades que, depois da ação pastoral do Apostolado do Dízimo, passam a ter grande desenvolvimento. E a principal razão disso é a mudança no modo de ver a comunidade. Antes ela não significava nada para as pessoas, e, após a evangelização desse Apostolado, passa a integrar a vida delas.
Há pouco estive em Moçambique, onde encontrei uma situação de muita necessidade. Porém, em 24 anos de Apostolado do Dízimo, eu nunca tinha visto uma abertura tão grande da parte dos fiéis como nesse país. Foram dez dias de missão, com encontros de uma participação espetacular.Naquela extrema pobreza, colhi testemunhos como estes: "Agora sinto orgulho de minha Igreja". "Nós nos afastamos de Deus, e agora temos oportunidade de retornar de forma responsável". "Jamais tinha pensado no dízimo a não ser como instrumento de arrecadação, e vejo agora que é uma bênção para nossa Igreja e para nós, do povo".


Qual o significado mais elevado do dízimo?
Durante muitos séculos deixou-se de lado essa questão, mas ela é profunda e importante: o dízimo expressa a gratidão a Deus, pois nós precisamos nos reconhecer sempre devedores d'Ele, uma vez que nada nos pertence, somos apenas administradores.
Nessa condição, temos dois caminhos: amá-Lo ou rejeitá-Lo, sermos bons administradores ou simplesmente ficarmos com tudo. Sermos fiéis ou infiéis. É a Parábola dos Talentos.
Colocar a mão no bolso é muito simples quando se tem dinheiro; mas por convicção, por amor a Deus, não é fácil. É preciso fazer uma violência, e esta se torna aprazível quando a pessoa constata que Deus é maravilhoso, pois nos concede muito mais do que Lhe damos.
São Paulo diz: "Que é que possuis que não tenhas recebido?" (1 Cor 4, 7).O dízimo é, então, uma devolução, uma restituição.


(Revista Arautos do Evangelho, Out/2006, n. 58, p. 32-33) Disponível em: http://www.arautos.org/view/show/5314-o-dizimo-e-uma-restituicao-a-deus





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